terça-feira, 7 de outubro de 2008

Uso de algas como indicadoras

Na minha página de recados do dia 11/07/08 o amigo Júlio César dá a chave do cofre para a leitura do seu excelente trabalho de Mestrado: Diatomáceas (Ochrophyta) Epilíticas do rio Negro, Paraná: Estrutura da comunidade antes e após um derramamento de óleo diesel e vegetal. (UFPR, 77p., 2007). Como eu ainda não tinha abordado esse tema no ABC, pedi licença ao Júlio para resumi-lo.

Você deve saber que há décadas alguns organismos (peixes, invertebrados aquáticos, fito e zooplâncton, moluscos bivalves e outros) são utilizados no monitoramento da degradação ambiental dos mananciais hídricos. Cada qual tem as suas vantagens e desvantagens em relação aos demais. As diatomáceas são utilizadas amplamente como bioindicadoras de níveis tróficos e de sapróbia no mundo inteiro, sendo este trabalho, pioneiro no estudo da resposta desta comunidade à presença de óleo diesel e vegetal em sistema lótico de água doce.

DIATOMÁCEAS PERIFÍTICAS
As algas pertencem à uma família de plantas primitivas (a maioria formada por uma única célula), sem folhas, caules ou raízes; quase sempre têm clorofila e vivem em ambiente aquático.

Perifiton = complexa comunidade de microrganismos (fungos, algas, bactérias, etc.) que, juntamente com partículas orgânicas e inorgânicas, encontra-se aderido (firme ou frouxamente) a um substrato submerso. A comunidade perifítica serve de alimento e refúgio para invertebrados e pequenos peixes, além de ser importante fonte de energia e contribuir para a reciclagem de nutrientes. A relativa falta de mobilidade das algas perifíticas, resulta em respostas imediatas às alterações físicas e químicas no ecossistema, determinando uma modificação numérica e associativa das espécies que ali se desenvolvem. O hábito normalmente séssil, associado ao curto ciclo de vida das espécies de algas que compõem o perifiton, resulta em respostas imediatas às alterações ambientais, funcionando como indicadoras confiáveis da qualidade da água e de seu estado trófico.

Neste estudo foi escolhido o epilíton, ou seja o perifíton que habita seixos e rochas, pois são substratos naturais e abundantes na maioria dos rios no mundo.

AMOSTRAGEM
No trabalho inédito desenvolvido por Júlio César Costin no rio Negro, estado do Paraná, foram usados para obter amostras da comunidade de diatomáceas perifíticas, seixos com diâmetro médio entre 8 e 10 cm, retirados do eixo da calha do rio, em profundidade mínima de 30 cm, totalizando 12 substratos naturais. Uma amostragem foi realizada antes ao derramamento de óleo diesel e vegetal, e três depois. As amostras de epiliton foram removidas da superfície (parte superior) dos seixos exposta à luz, através da raspagem manual com escovas de nylon. Posteriormente foram confeccionadas lâminas, observadas em microscópio óptico em mil aumentos (1000x), já que as algas medem entre 2 à 300 micrômetros (milionésima parte do metro), tendo sido fotografadas com câmera digital (fotos em Anexo no trabalho).

ESPÉCIES INDICADORAS
As ornamentações na frústula de sílica que formam a parede celular são utilizadas para a identificação das diatomáceas. Trocando em miúdos: cada alga se parece com um grão de arroz ou com uma folha de eucalipto; e o número e disposição das suas “nervuras” é que diferenciam uma espécie da outra. Assim, foram identificadas as espécies consideradas abundantes, ou seja, aquelas que caracterizam cada amostragem, que representam no mínimo 80% do total de indivíduos identificados e computados.

CONCLUSÕES
1) Evidenciaram-se alterações na composição e abundância relativa das diatomáceas epilíticas considerando-se a fase pré e pós-derramamento.
2) Houve diminuição na riqueza de espécies após o derramamento de óleo; constatou-se que cerca de 40 % do total dos táxons encontrados na amostragem pré-derramamento, não foram mais constatadas nas amostragens pós-derramamento.
3) Do total das espécies encontradas na coleta anterior ao derramamento, 65,8% não foram encontradas um mês após o aporte de ambos os óleos.
4) As diatomáceas epilíticas responderam de forma diferenciada ao derramamento de óleo diesel e vegetal. Houve aumento da densidade de algumas espécies, diminuição de outras e algumas desapareceram ao longo do período do estudo.
5) Houve grande diminuição na riqueza e diversidade da taxocenose de diatomáceas epilíticas do rio Negro, por tanto esta biocenose pode ser utilizada como bioindicadora em derramamentos de óleo diesel ou vegetal.

Autoria: José Luiz Viana do Couto
e-mail: jviana@openlink.com.br


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