terça-feira, 7 de outubro de 2008

Agroenergia - A bola da vez

Ouvi na Voz do Brasil de 12/06/08 uma informação do Ministério de Minas e Energia – MME, dando conta que universidades brasileiras pesquisam baterias solares para serem utilizadas em locais remotos do país e que, também, estão sendo testadas pequenas turbinas hidráulicas para, em pequenos riachos, gerarem energia elétrica para até 150 famílias ou 750 pessoas, através de pequenas centrais hidrelétricas – PCH. Essa notícia atiçou a minha curiosidade e fui até o site do MME procurar dados mais concretos. Confesso que não achei mas, no menu Programas > Agroenergia, achei o arquivo Diretrizes de Política de Agroenergia, de 6/11/05, que passo a reproduzir, em parte.

O QUE É AGROENERGIA ?
Agroenergia é o nome genérico de atividades rurais destinadas primordialmente à produção de energia, seja térmica ou elétrica. São elas:
1 – Álcool (etanol da cana-de-açúcar)
2 – Biodíesel (produto derivados de oleaginosas e gordura animal)
3 – Florestas energéticas (plantações comerciais de eucalipto para carvão)
4 – Resíduos agroflorestais (utilização da biomassa vegetal e fezes de animais)

O etanol é um aditivo ou substituto para a gasolina (a participação dos veículos “flex-fuel” já representam 70% das vendas de automóveis novos no País). O biodíesel é um substituto para o óleo diesel mineral proveniente do petróleo, cuja demanda é de cerca de 840.000 litros por ano para a mistura de 20% ou o chamado B2. As florestas energéticas cultivadas (plantações de eucalipto para produção de carvão vegetal) destinam-se prioritariamente à fabricação do ferro gusa nas siderúrgicas brasileiras (cerca de 86% do total, em 2000) e apresentam a perspectiva de uso dos mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL) para premiar a produção do chamado “aço verde”.

Quanto aos resíduos agroflorestais, o potencial de utilização também é grande, já que a participação da biomassa na matriz energética nacional está situada em 29% (é de apenas 11% em nível mundial) e tende a subir com o uso crescente do bagaço de cana-de-açúcar como fonte de energia nas novas termelétricas do País.

VANTAGENS
O Brasil é o país que reúne o maior quantitativo de vantagens comparativas para liderar a agricultura de energia: possui terra, mão-de-obra e tecnologia. Além de permitir que o País se lance como um fornecedor regular de combustíveis renováveis, também pode permitir a maior participação no mercado de créditos de carbono. Principalmente no caso do biodíesel, há uma vantagem adicional: o seu Programa prevê que boa parte da matéria prima seja fornecida pela Agricultura Familiar, que é a responsável pela geração de 70% dos empregos na zona rural. A autonomia energética comunitária é outro “milagre” que se espera da Agroenergia. Ou seja, a energia passará a ser um componente do custo de produção agropecuário e da agroindústria, tornando progressivamente atraente a geração de energia dentro da propriedade rural. E um dos maiores sonhos dos urbanistas é que a boa situação no campo, se não puder inverter o sentido do fluxo migratório para as cidades, pelo menos não continue a gerar favelas. Lembra do comentário sobre a ODM número 7 do meu texto que antecede a este ?

1) ETANOL
Empregado na indústria química, na fabricação de bebidas e como carburante, é hoje a principal bioenergia utilizada no mundo. Entre 2000 e 2004, sua produção mundial cresceu 47%, atingindo 41 bilhões de litros, dos quais quase 73% foram usados como combustível. Os maiores produtores e consumidores do etanol são o Brasil e Estados Unidos. Juntos, foram responsáveis por quase 70% da produção e do consumo mundial em 2004, seguidos pela China (9%), União Européia (5%) e Índia (4%), que utilizam o biocombustível misturado à gasolina em diferentes percentuais.

Só o Brasil, consumiu 12 bilhões de litros em 2004. Atualmente, são 70.000 agricultores em todo o Brasil e 393 usinas, distribuídas principalmente nas regiões Centro-Sul (responsável por 92% da produção de etanol) e N-NE (com os 8% restantes). São Paulo é disparado o maior produtor.

No entanto, a maior riqueza em sacarose na cana-de-açúcar e a possibilidade de se aproveitar o seu bagaço e sua palha para co-gerar energia (queima em caldeiras), que será consumida no processo produtivo do álcool, torna essa matéria-prima preferencial em termos produtivos (produtividade e custos), quando comparada com as demais.

O benefício ambiental associado ao uso do etanol é considerável, pois cerca de 2,3t de CO2 deixam de ser emitidos para cada tonelada de álcool combustível utilizado, sem considerar outras emissões, como o SO2. Ou seja, o uso do álcool reduz em 50% a emissão de monóxido de carbono dos motores de veículos, pois contém 35% de oxigênio, o que auxilia na combustão dos produtos derivados do petróleo. Além dessas características, é solúvel na água, não tóxico e biodegradável.

Mercados do etanol: 1 – combustível; 2 – uso industrial; e 3 – fabricação de bebidas.

2) BIODÍESEL
No caso do biodíesel, as principais produções e consumos estão na União Européia (principalmente na Alemanha, França e Itália), que fornece subsídios para incentivar as plantações de matérias-primas agrícolas em áreas não exploradas, mais isenção de 90% nos impostos.

As vantagens comparativas do Brasil são: a) a variedade de plantas oleaginosas capazes de gerar biodíesel (mais de 20); b) a extensão de terras disponíveis (cerca de 50 milhões de hectares de pastagens degradadas e/ou subutilizadas); c) mão de obra para a produção (Agricultura Familiar e grandes produtores); d) tecnologia e e) mercado.

3) FLORESTAS ENERGÉTICAS CULTIVADAS
Estima-se existirem no Brasil cerca de 3 milhões de hectares de eucalipto, destinados primariamente à produção de carvão vegetal. De acordo com a FAO, a área brasileira de florestas nativas é de aproximadamente 5,3 milhões de km2, ou cerca de dois terços da área do país, sendo a 2a. maior do mundo, após a Federação Russa.

As variações no consumo de energia da madeira (sob a forma de lenha bruta e resíduos), estão associadas ao grau de desenvolvimento do país. Seu uso é especialmente comum em áreas rurais dos países em desenvolvimento, sendo responsável pela quase totalidade da energia consumida no lar (fogão à lenha). Via de regra, o seu consumo é local, ou seja, colhido nas redondezas. Já o carvão vegetal (proveniente das florestas energéticas cultivadas, em geral de eucaliptos, e após queimados em fornos rústicos de barro) é mais consumido nas áreas urbanas e suburbanas, demandando cerca de 6 m3 de madeira verde para a produção de uma tonelada de carvão vegetal. Assim, incorrem custos de transporte, tanto da matéria-prima quanto do carvão, de processamento e de estocagem.

4) RESÍDUOS AGROFLORESTAIS
Esses resíduos são de 3 naturezas:
a) biomassa vegetal = restos de colheita, palha de arroz e outros;
b) subprodutos da agroindústria = bagaço de cana, vinhaça, etc.; e
c) fezes de animais = suínos, bovinos e aves.
Em alguns casos, podem ser utilizados pelo produtor rural ou agroindústria para a queima direta, visando a produção de calor. Em outros, como no caso das fezes de animais, a melhor alternativa é a produção de biogás em biodigestores. Entretanto, a principal forma de aproveitamento desses resíduos, ainda é a sua queima para a produção de vapor. O setor rural é, assim, o maior consumidor de biomassa para energia. Estima-se que o consumo per cápita atual seja de uma tonelada por ano, ou aprox. 15 giga-Joules (GJ), enquanto nas áreas urbanas este valor cai para 50%.

ETANOL DO LIXO

(Empresa britânica anuncia etanol 'feito de lixo')

Uma empresa britânica anunciou nesta segunda-feira (21/7) ter tecnologia para começar a produzir etanol a partir de lixo biodegradável em escala industrial dentro de dois anos. A Química Ineos Bio afirma que será possível usar lixo biodegradável municipal, lixo orgânico comercial e resíduos de agricultura, entre outros, para a produção do combustível. Segundo a empresa, a tecnologia já foi testada em um projeto piloto nos Estados Unidos. "Planejamos produzir quantidades comerciais de combustível de bioetanol de lixo para ser usado como combustível para carros dentro de dois anos", afirmou Peter Williams, diretor executivo da Ineos Bio.

A empresa alega que esta tecnologia tem a vantagem de não afetar a produção de alimentos. Uma tonelada de lixo seco pode ser transformada em cerca de 400 litros de etanol, informou a empresa.

"O fato de termos conseguido separar a segunda geração de biocombustíveis dos alimentos é um grande passo. Esperamos que a tecnologia garanta combustíveis renováveis e sustentáveis a um custo competitivo", disse Williams.

A empresa, no entanto, precisará da cooperação dos governos locais para ter acesso ao lixo.

COMO FAZER
A transformação se opera em três estágios. Primeiro, o lixo é superaquecido para a obtenção de gás. Em seguida, este gás é usado para alimentar bactérias anaeróbicas (biocatalizadoras) que produzem o etanol. No estágio final, o etanol é purificado para ser usado como combustível puro ou misturado à gasolina.

A Ineos ainda não anunciou a localização da primeira usina comercial de produção do etanol do lixo.

O INÍCIO
O processo foi desenvolvido em Fayetteville, no Estado americano do Arkansas. As pesquisas começaram em 1989 e a primeira usina foi montada depois de 20 anos de trabalho.

A fábrica está operando continuamente desde 2003, usando diferentes dejetos.

Fonte: Página de Ambiente Brasil e o Estadão Online, 22/07/08

A TACADA FINAL

Para não prolongar muito este capítulo do ABC, que chamei de “Agroenergia: a bola da vez”, vou empurrar para a caçapa a bola verde do etanol, com o resumo do artigo OCDE defende etanol do Brasil e critica EU e EUA (O Globo, Economia, 17/07/08, p.29).

O 1o. estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE isenta o etanol brasileiro dos principais ataques e condena os biocombustíveis americano, europeu e canadense. Enquanto esses países (ditos de 1o. mundo) subsidiam a beterraba, trigo e óleos vegetais (cujo etanol e biodíesel reduzem de 30 a 60% as emissões de gases poluentes), o etanol da cana-de –açúcar tupiniquim reduz as emissões em 80%. Diante disso, os preços do trigo, arroz e óleos vegetais aumentarão até 13% de 2013 a 2017. Já o do açúcar brasileiro será pouco afetado a médio prazo.

A OCDE defende “moratória” sobre biocombustíveis e revisão das políticas atuais, alegando que têm benefício ambiental duvidoso.

EUA, União Européia e Canadá gastaram US$ 11 bilhões em 2006 com subsídios, que deverão atingir US$ 25 bilhões de 2013 a 2017. O Brasil, segundo o estudo, reduziu (o grifo é nosso) seus incentivos fiscais ao etanol.

Autoria: José Luiz Viana do Couto e-mail: jviana@openlink.com.br

Nenhum comentário: