terça-feira, 7 de outubro de 2008

Peixe e poluição

Semana passada o Presidente Lula transformou a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca – SEAP em Ministério da Pesca. Deixarei de lado a polêmica criada com os novos cargos e, como Agrônomo e Sanitarista, abordarei apenas os aspectos relativos à produção de alimentos e à poluição.

Os peixes são a proteína mais barata e de melhor qualidade que pode ser produzida atualmente. Embora tenhamos 8.500 km de costa, 12% da água doce do mundo, 2 milhões de hectares de terras alagadas, grandes reservatórios e açudes, consumimos apenas 7kg/hab.ano de peixe, contra os 12kg recomendados pela OMS e a média mundial de 16kg.

Sabemos que a quase totalidade dos nossos rios são verdadeiras valas de esgoto bruto. A primeira conseqüência é a mortandade de peixes e, os que sobrevivem, adoecem e transmitem doenças a quem os consome.

A Resolução CONAMA 20, de 18/06/86, classifica as águas de acordo com sua utilização. Para cada classe, existe um critério técnico que determina quando a mesma é considerada poluída, estabelecendo uma quantidade mínima de poluentes que podem estar presentes. Por sua vez, a Vigilância Sanitária exige que cada grama de alimento não contenha mais do que 100 NMP (Número Mais Provável) de coliformes fecais.

A poluição afeta a morfologia do zooplâncton, fauna microscópica que compõe boa parte da dieta dos peixes menores, que sofrem com a escassez de alimentos e podem contaminar-se. Rubens Lopes, um dos responsáveis pelo estudo de zooplâncton no estuário e na baia de Santos, encontrou a bactéria Vibrio cholerae (causadora da cólera) em boa parte das espécies que examinou. Segundo Rubens, o mar é o ambiente natural da bactéria, mas a poluição orgânica torna a baía especialmente propícia para a sua multiplicação.

Os poluentes em peixes
Praticamente todo peixe que vive em ambiente natural contem traços de metilmercúrio. O mercúrio se acumula nos peixes quando a água poluída é filtrada através de suas guelras. Quanto mais o peixe vive, mais mercúrio se acumula.
Ao comerem peixes menores, retêm o mercúrio dos mesmos. Do mesmo modo, nossos tecidos acumulam o mercúrio dos peixes que comemos durante toda a nossa vida. O mercúrio é venenoso para o cérebro, o sistema nervoso; causa hipertensão, doença cardíaca, desordem mental e doenças endócrinas.

Assim como o mercúrio, outros poluentes, incluindo os PCBs, se acumulam nos peixes e nos tecidos humanos de quem come peixe regularmente. Eles podem permanecer no corpo por décadas, aumentando o risco de doenças como o câncer.

Quase todo o oceano já foi danificado de alguma maneira pela ação do homem e pelo menos 41% de suas águas foram seriamente afetadas. Os oceanos estão se tornando cada vez mais ácidos, devido à absorção de dióxido de carbono em excesso, e as plantas estão sendo afetadas pelo aumento da radiação ultravioleta.

Enquanto a pesca de subsistência (há 4 tipos de pesca: subsistência, comercial, esportiva e científica) tem um impacto limitado na ecologia marítima, a pesca comercial representa um alto impacto e joga toneladas de peixes, aves e mamíferos mortos no mar, e isso ameaça a extinção de várias espécies de tartarugas, aves, baleias e golfinhos.

Outros vilões da produção de pescado, no Brasil, são:
1 – esgotos (domésticos e industriais);
2 – agrotóxicos e dejetos de animais;
3 – chorume do lixo;
4 – derramamento de óleo;
5 – sobrepesca;
6 – tráfego de barcos;
7 – aterro de manguezais; e
8 – assoreamento e turbidez.

Não bastasse, ainda tem gente que adora comer sushi com peixe de origem desconhecida. À propósito: minha comida predileta é peixe (frito).

Autoria: José Luiz Viana do Couto
e-mail: jviana@openlink.com.br

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