sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Revitalização de rios

A palavra revitalização passou a ficar conhecida do povo, com essa novela em que se transformou a transposição do rio São Francisco.[http://www.carbonobrasil.com/textos.asp?tId=108&idioma=1]
É a exigência dos ambientalistas, antes do início das obras de bombeamento e da construção dos canais e dutos nas bacias que serão beneficiadas. A maior preocupação ambiental é com a manutenção da vazão; secundariamente, com a qualidade das águas do velho Chico.[http://www.comciencia.br/reportagens/2005/02/04.shtml]

Disse atrás que o Brasil está sempre atrasado e na lanterninha da modernidade. Enquanto aqui nós vamos com a farinha, lá fora (nos países desenvolvidos), eles já vêm com o fubá pronto. Não que sejamos inferiores, mas por falta de oportunidades, de educação e de inovação. Assim está sendo com a revitalização dos nossos rios. Assista a este vídeo (de 4 min em banda larga) sobre a revitalização do rio das Velhas-MG.[http://www.tvcultura.com.br/reportereco/materia.asp?materiaid=176]

Na moderna concepção ecológica, revitalizar um determinado rio não quer dizer apenas acabar com a poluição de suas águas e recompor as matas ciliar e ripária. Tem a ver, principalmente, com as suas funções originais, com destaque para a sua geomorfologia. Dou um exemplo.

É comum nas áreas planas (como na Amazônia e na Baixada de Jacarepaguá, aqui no Rio de Janeiro), os rios apresentarem meandros (aquelas curvas sinuosas do leito). Por ocuparem áreas valorizadas, o homem, “inteligentemente”, se apressa em aterrá-las, reduzindo o rio a um canal artificial. Isso, realmente, resolve o problema da escassez de áreas (que podem ser usadas para edificações ou agricultura), mas criam sérios problemas ecológicos. Em alguns países evoluídos, os técnicos já estão tentando refazer as curvas originais, quando possível.[http://restoringrivers.org/]

Ecologia é o ramo da Biologia que trata das relações recíprocas dos seres vivos e destes com o ambiente. Do Grego Oikos = casa, habitat + Logos = estudo. O ambiente em geral limita a sobrevivência dos seres. A população de uma espécie, num dado momento, é determinada pela relação entre o potencial biótico (índice de reprodução) e a resistência ambiental. Obviamente, quando a resistência ambiental aumenta, a população diminui; quando essa resistência baixa, a população cresce. Assim, a ecologia dos rios nada mais é do que o estudo das interações dos seres vivos que habitam os rios (e seu entorno) e o meio ambiente.

Os seres vivos que habitam a comunidade biótica dos rios e adjacências são extremamente variados: peixes, anfíbios, insetos, répteis, pássaros, mamíferos, moluscos, caramujos, algas e plantas superiores. A resistência ambiental antes referida e que ameaça de extinção estas espécies, também é farta: barragens, mineração, esgotos, desmatamentos, aterros, urbanização, estradas, irrigação, agrotóxicos, indústrias, retificações e outras interferências do homem na paisagem natural dos rios.

No Brasil, infelizmente, cerca de 97% dos técnicos encarregados do estudo dos rios, são os Engenheiros Civis que, por formação, não levam em conta nos seus projetos, os aspectos ecológicos. Algumas vezes, por força de lei, são obrigados a terceirizar os Estudos de Impacto Ambiental – Relatório de Impactos sobre o Meio Ambiente, EIA/RIMA. Seria injustiça desconsiderar a grande contribuição que esses Profissionais já deram e vêm dando aos Estudos Hidrológicos, tendo sido os pioneiros na Hidrometria (medição das vazões dos rios), por exemplo.

Mesmo nos países desenvolvidos, como a Áustria, por séculos, os rios têm sido manipulados e regulados com um enfoque mais tecnológico do que ecológico. Como conseqüência, hoje há um grande número de rios mortos ou quase, incapazes de exibirem com vigor suas importantes funções naturais.

Pelo enfoque tecnológico, o rio nada mais é do que um canal natural, de onde o homem retira, de graça, água para: consumo, irrigação, indústria, etc., devolvendo-lhe esgotos e maus tratos. Pelo enfoque ecológico, o rio é um meio líquido onde (nele e à sua volta) se desenvolve uma comunidade biótica, com atributos físicos e químicos, que devem ser conservados ou, pelo menos, não tão maltratados pelo homem.

PRINCÍPIOS ECOLÓGICOS
Os princípios ecológicos que devem nortear qualquer interferência do homem (resistência ambiental) no meio aquático ribeirinho e na zona ripária (faixa de terra que margeia os rios) para que ocorra o tão desejado desenvolvimento sustentável, são os seguintes:
1. Preservar a qualidade da água
2. Manter a integridade física do rio
3. Proteger o habitat dos animais e vegetais

A qualidade da água do rio é função da sua pureza, aproximando-se e até mesmo ultrapassando, no seu trecho inicial, à qualidade da água da chuva. Normalmente, mesmo sem a interferência do homem, essa qualidade vai se deteriorando, à medida que o rio avança e quando as águas chegam à foz, já estão, de algum modo, poluídas. Qualquer ação humana, mesmo bem intencionada, que interfira no fluxo natural das descargas e que leve águas-servidas e sedimentos ao rio, vai invariavelmente interferir nos seus padrões de qualidade. A vegetação marginal tem uma função primordial na qualidade da água pois, além de servir como filtro para os sedimentos que chegam à calha vindos da zona ripária, por protegerem a superfície do rio (ou parte dela) dos raios solares, mantêm o teor de oxigênio dissolvido na água, e fornecem alimentos e refúgios, indispensáveis para a sobrevivência das espécies aquáticas.

Manter a integridade física de um rio significa deixá-lo intocado, virgem, sem a interferência humana, como a maioria dos rios da Amazônia. Se bem que, mesmo ali, alguns já se acham contaminados por mercúrio, levado pelo ar, vento e chuva, de garimpos distantes.
Algumas feições naturais do rio são mais sensíveis às ações do homem, tais como: nascentes, várzeas, floresta ripária, pântanos, foz, ribanceiras e encostas elevadas, corredeiras e meandros. Essas características naturais e funções do rio devem ser preservadas de alguma forma, para proteger a integridade ecológica e para melhorar a conectividade entre os habitats dos animais silvestres. Como é impossível a urbanização sem ferir a integridade física do rio, as obras de engenharia como os diques de proteção contra enchentes, por exemplo, deveriam ser minimizadas, dando-se prioridade à retenção natural das águas, a restauração dos alagados ripários e às áreas de infiltração, para diminuir os volumes das enxurradas. Do mesmo modo, devemos evitar: as retificações dos meandros; a construção de moradia nas várzeas (margens); os pisos totalmente impermeáveis; os desmatamentos e os aterros de manguezais, etc.

Proteger o habitat dos animais e vegetais não é função apenas dos chamados de “eco-chatos”; é uma questão de soberania e inteligência. As várzeas, por exemplo, estão entre os mais diversificados habitats do mundo. O fluxo natural das águas determina o número e o tipo de habitats que existem no rio e em suas margens; é importante como fonte de alimento, locais de desova e recria e rotas de migração de animais silvestres, peixes e outras espécies aquáticas. As cheias naturais são a chave para a manutenção da integridade ecológica dos ecossistemas dos rios. Devemos conhecer a ecologia do rio, incluindo o seu passado histórico. Essas considerações incluem as características da área por ele drenada (a bacia), as várzeas, o percurso, os seus tipos únicos de habitats, a estrutura de seu leito e margens; os seus níveis d´água e descargas (Hidrologia), química da água e as necessidades biológicas de sua fauna (peixes, insetos, anfíbios, répteis, pássaros e mamíferos). Também é importante compreender como a estrutura do rio vem sendo alterada e como ela pode ser mudada no futuro.

Nos acostumamos a pensar que tudo o que ocorre de errado do lado de fora da nossa porta é problema do Governo; o acúmulo de lixo, os buracos nas ruas e os rios poluídos. Em parte isso é verdade, vez que pagamos impostos para quase tudo. Por outro lado, cada vez mais, cresce a participação da sociedade na solução de problemas que até há pouco “não eram da nossa conta”, como o combate à fome, a denúncia anônima, a adoção de crianças e o trabalho voluntário.

Fica patente, portanto, a seguinte situação: estamos rodeados de problemas que o Governo não consegue resolver mas que, se nós quisermos, podemos dar a nossa parcela de contribuição. Mas, para isso, precisamos conhecer o problema.

Por que os rios estão poluídos ?
Herdamos dos nossos colonizadores a cultura do desperdício. Se a Prefeitura não vem à nossa porta apanhar o lixo, é mais fácil jogá-lo pela janela, no valão mais próximo. É mais ou menos assim que fazemos com os nossos esgotos (domésticos e industriais), florestas, agrotóxicos e tudo o que é descartável. Os agricultores, na maioria das vezes por desconhecimento, usam técnicas agrícolas equivocadas (plantio morro-abaixo, solo desprotegido da chuva, monocultura, etc.), que levam toneladas de terra fértil para os rios, carreados pelas chuvas, assoreando-os e contaminando-os. As principais causas da degradação dos nossos rios são pois: o lançamento de esgotos sem tratamento, a erosão dos solos e o desmatamento.

Como podemos ajudar
Quem vive nas cidades (a maioria dos brasileiros) tem menos chances de ajudar na despoluição dos rios, uma vez que, na maioria das vezes nem os vemos, pois estão canalizados e concretados sob os nossos pés. Na periferia das cidades, onde os rios são verdadeiros canais de esgoto, ajudariam muito se, ao menos, não se construíssem barracos em suas margens e não jogassem lixo no seu leito. Por outro lado, os citadinos têm mais recursos do que os campesinos para promoverem a Educação Ambiental em larga escala.
Os que moram no campo, por estarem mais em contato com os rios, têm maiores responsabilidades com a sua recuperação. Entre as medidas práticas mais eficazes, relacionamos os seguintes:[http://www.therrc.co.uk/manual.php]
a) proteção das nascentes e matas ciliares;
b) conservação do solo e da água;
c) adoção de técnicas de irrigação localizada e do plantio-direto;
d) cobertura do solo com restos de cultura e adubação orgânica;
e) construção de bacias de infiltração da água da chuva ao longo e às margens das estradas vicinais; e
f) outros (vide link acima).

O que esperar do futuro
As ações de revitalização dos rios são comuns nos países desenvolvidos, desde a década de 60. O Brasil ainda está engatinhando nessa matéria mas, se quisermos, poderemos recuperar o tempo perdido através de técnicas limnológicas, como aquelas usadas pioneiramente pela Universidade de São Carlos – SP. O rio Mogi-Guaçu, por ex., que banha os estados de Minas Gerais e São Paulo, foi alvo, anos atrás, desses estudos. Foram pesquisados parâmetros físicos, químicos e biológicos da água e dos sedimentos desse rio, chegando-se à conclusão que, como a maioria dos rios brasileiros, ele está agonizante.[http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/baciaurb.htm]

Desse modo, meu amigo, se você quer ser um Gestor Ambiental competente, além de Ecologia, tem de estudar um pouco mais sobre Hidrologia[http://www.profrios.hpg.ig.com.br/].

ESTUDO SUPLEMENTAR
1 – Tópico sobre Revitalização de Rios.[http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=58825&tid=5845752]
2 – Capítulo sobre Limnologia na página sobre Riscos de Acidentes.[http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/index.htm]
3 – Manual inglês sobreRevitalização de Rios.[http://www.therrc.co.uk/publications.htm]
Dentre os vários enfoques requeridos pela Gestão Ambiental, a Gestão das Águas é, sem sombra de dúvida, a mais importante, pois ela tem a bacia hidrográfica como o palco de ação.[http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=58825&tid=23336126]

E já que falamos em Revitalização de Rios, vamos emendar o assunto com a chamada Gestão dos Recursos Hídricos, tratada na Lei das Águas (No 9.433/97). [http://www.ana.gov.br/GestaoRecHidricos/PlanejHidrologico/default.asp]

Por essa lei, qualquer interferência antrópica (do homem) nos mananciais, sejam de superfície ou subterrâneos, deve seguir as diretrizes governamentais. Foi-se o tempo em que uma única propriedade agrícola podia até secar um córrego com suas bombas de irrigação (deixando os demais a ver navios) ou uma indústria matar toda a fauna de um rio com os seus dejetos. Agora, tudo é regulado pelo Plano Diretor de Recursos Hídricos - PDRH. Entre 1997 e 2002, eu participei da elaboração de quatro Planos em rios do Nordeste.

Segundo dados da Revista Agroanalysis (ed. março de 1998, p.29), da água retirada de um rio, cerca de 70% vai para a atividade agrícola (irrigação, principalmente), 23% para as indústrias apenas 7% para o consumo humano. O PDRH disciplina essa disputa e delineia cenários de curto, médio e longo prazos para o uso sustentável dos recursos hídricos.

Em síntese, o Brasil copiou da França a sua política de gerenciamento de recursos hídricos, que criou os Comitês de Bacias (do rio Paraíba do Sul, Piracicaba, São Francisco e outros, p.ex.), disciplinou a outorga de uso e a cobrança pelo uso da água. O Comitê do rio Pardo, p.ex., é bastante atuante e eu cheguei mesmo a colaborar com ele, escrevendo alguns artigos técnicos em seu Boletim.[http://www.comitepardo.com.br/]

O Programa Desenvolvimento Sustentável em Debate, que vai ao ar toda 6a.feira, das 12 às 13 h, apresenta uma série de palestras relacionadas ao meio ambiente e gestão ambiental.[http://www.ea.ufrgs.br/eatw/dsd.asp]

À propósito, assisti ao vídeo Gestão ambiental nas regiões metropolitanas, do professor José Carlos da Silva Filho, que fez o doutorado na Alemanha e discorre o livro que escreveu sobre a gestão das águas no
Rio Grande do Sul.[http://www.ea.ufrgs.br/eatw/video_acervo.asp?caminho=eatwacervo2005/dsd/dsd_20051202.wmv]

E também, Uma visão integrada para o uso da água do ambiente, palestra proferida dia 24/03/06, pelo Professor Sérgio Brião Jardim, da PUCRS.[http://www.ea.ufrgs.br/eatw/video_acervo.asp?caminho=eatwacervo2006/dsd/dsd20060324.wmv]

Autoria: José Luiz Viana do Couto
e-mail: jviana@openlink.com.br

O que se espera de um gestor ambiental

O mercado de trabalho para os Gestores Ambientais é amplo, está em expansão e tende a crescer ainda mais com o aumento da consciência ecológica e a preocupação das empresas e instituições com a responsabilidade ambiental.[http://www.ietec.com.br/ietec/techoje/techoje/noticiasietec/2004/02/18/2004_02_18_0001.2xt/-template_interna]

As empresas voltadas para atividades de alto impacto ambiental, como as hidrelétricas, siderúrgicas, mineradoras e petrolíferas são as que mais empregam esses profissionais. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, estima-se que 85% das grandes empresas do país empreguem Gestores Ambientais e que o crescimento da procura por eles seja de 30% ao ano.

AS FUNÇÕES DO GESTOR AMBIENTAL
Entre as várias funções exercidas pelo Gestor Ambiental estão: o planejamento e administração de programas de gerenciamento ambiental, a implantação de certificações, o controle de qualidade e a preservação ambiental.[http://www.vencer.com.br/materia_completa.asp?codedition=56&pagenumber=8]

Para desenvolver tecnologias limpas, os resultados a serem obtidos com o trabalho do Gestor Ambiental podem ser resumidos nos seguintes:
> Minimização de resíduos e prevenção da geração de resíduos perigosos;
> Redução dos custos com gerenciamento de efluentes líquidos e resíduos;
> Redução do consumo de energia;
> Melhoria da qualidade do produto;
> Melhoria da produtividade;
> Redução dos riscos de saúde dos trabalhadores;
> Redução dos Riscos Ambientais;
> Diminuição do passivo ambiental da empresa; e
> Melhoria da imagem pública da empresa.

Segundo a Lei Federal No. 10.410 de 11/01/02 (que cria e disciplina a carreira de Especialista em Meio Ambiente), verificamos que:

Art. 2o. – São atribuições dos ocupantes do cargo de Gestor Ambiental:
I – formulação das políticas nacionais de meio ambiente e dos recursos hídricos afetas à:
a) regulação, gestão e ordenamento do uso e acesso aos recursos ambientais;
b) melhoria da qualidade ambiental e uso sustentável dos recursos naturais.
II – estudos e proposição de instrumentos estratégicos para a implementação das políticas nacionais de meio ambiente, bem como para seu acompanhamento, avaliação e controle; e
III – desenvolvimento de estratégias e proposição de soluções de integração entre políticas ambientais e setoriais, com base nos princípios e diretrizes do desenvolvimento sustentável.[http://www.ana.gov.br/Institucional/legislacao/leis/lei10410.pdf]

O Gestor Ambiental é o profissional capacitado a coordenar equipes multidisciplinares que têm como objetivos: avaliar, prever, recuperar e minimizar impactos e riscos causados ao meio ambiente, além de implantar, administrar e avaliar sistemas de gestão ambiental em diversas organizações.[http://www.unicid.br/sup_tec/gestao_ambiental.htm]

Organização Curricular
O Curso de Gestores Ambientais é formado pelos módulos:
1 – licenciamento ambiental
2 – impactos ambientais
3 – recuperação e manejo ambiental
4 – ambiente empresarial

Do seu currículo constam as Disciplinas: licenciamento ambiental, princípios de biossegurança, manejo e conservação de ecossistemas, recuperação de áreas degradadas, empreendedorismo, educação ambiental e gestão ambiental integrada.

Como vê o amigo, o GA é um profissional bem eclético (entende de várias coisas) e deve ter espírito de liderança.

Salário Mensal
R$ 1.500,00 a R$ 6.000,00 (dependendo da experiência, tempo de formado e porte da empresa contratante).

Não pretendo com este tópico fornecer um curso à distância de Gestor Ambiental (pois sou um mero aprendiz de feiticeiro). Eu ficaria satisfeito se os colegas que trabalham na área, efetivamente, o utilizassem para trocar idéias e informações (colocando uma azeitona na empada dos que estão iniciando); como um amigo, que externou a sua dificuldade em reunir recursos para atuar junto a agricultores familiares, por exemplo.

Definindo PRIORIDADES
Como vimos no bloco anterior, são muito vastas as áreas de atuação do Gestor Ambiental e, portanto, dada a carência de recursos e a limitação temporal, há que se definir prioridades. O texto abaixo (cor verde) foi transcrito do Caderno de Formação número 4 do MMA (pág.51/80).

As conclusões da pesquisa Perfil dos Municípios Brasileiros, Meio Ambiente, 2002, realizado pelo IBGE, sugerem uma tendência entre os gestores públicos brasileiros. Eles dão mais atenção àqueles problemas ambientais que afetam de forma direta a qualidade de vida das pessoas, como os referentes ao saneamento, por exemplo.

Essa informação é bastante relevante para quem realiza o planejamento específico dos órgãos ambientais. Mas ao definir suas prioridades de atuação, será necessário considerar também as ações destinadas a defender a fauna, a flora, bem como os demais recursos naturais. Afinal, essa constitui a sua especificidade. Da mesma forma, o planejamento deverá equilibrar, para cada ação priorizada, as distintas atribuições do Sistema, de modo a exercer controle e fiscalização, atuar no manejo, realizar ações educativas, e promover o monitoramento das condições ambientais locais.

AÇÕES AMBIENTAIS PRIORITÁRIAS
1 – Saneamento: água, esgoto, lixo e controle de vetores;
2 – Qualidade da água: metais pesados e resíduos organoclorados;
3 – Mobilidade urbana: espaço público e transporte;
4 – Áreas verdes: praças, parques e espaços livres;
5 – Unidades de conservação: atrativos paisagísticos e biológicos;
6 – Queimadas e incêndios florestais: Código Florestal;
7 – Desmatamentos: Reserva Legal e Área de Preservação Permanente;
8 – Parcelamento do solo urbano: Lei No. 6.766 de 19/12/79; e
9 – Combate à poluição: do ar, visual, hídrica, agrotóxicos, mineral, etc.

Eu acrescentaria:

10 – A recuperação de áreas degradadas e das matas ciliares com espécies nativas e leguminosas com raízes enriquecidas com bactérias fixadoras no Nitrogênio atmosférico;
11 – Avaliação do estado trófico dos mananciais de superfície (clorofila_a e/ou sedimentos), por meio de sensoriamento remoto orbital; e
12 – Uso de modelos hidrossedimentológicos (como o Arc View Soil and Water Assessment Tool – AVSWAT, p.ex.), para analisar os impactos das alterações no uso do solo sobre o escoamento superficial e subterrâneo, produção de sedimentos e qualidade de água em bacias hidrográficas agrícolas.

Na definição dessas prioridades, é bom não esquecer os pontos fundamentais como, p.ex., a ausência de previsão de medições hidrométricas em programas de conservação do solo em microbacias hidrográficas rurais ou que objetivem o controle da poluição em bacias urbanas, como a do Mata-Fome (Belém-PA), que motivou o meu tópico PRIORIDADES AMBIENTAIS[http://www.orkut.com/CommMsgs.aspx?cmm=58825&tid=2460685481557509671].

A PRIORIDADE das prioridades
Com tantas prioridades ambientais, muitas vezes, o Gestor Ambiental tem de se decidir pela mais importante. Sem dúvida, eu elegeria os esgotos domésticos. Seguem-se algumas razões para a escolha:

1 – junto com a água, são responsáveis por mais de 80% das doenças;
2 – de cada 10 litros de água potável, 8 se transformam em esgoto;
3 – para cada real aplicado em saneamento, 4 são evitados em saúde;
4 – têm a menor cobertura domiciliar (atendimento) em todo o Brasil;
5 – são os maiores responsáveis pela poluição dos nossos rios e lagos; e
6 – com os devidos cuidados sanitários podem ser úteis na irrigação.

O problema da água poluída pode ser resolvido pela simples exposição de uma garrafa PET (cheia a ¾) ao sol por 4 a 6 horas; o lixo pode ser minimizado pela reciclagem e compostagem (ambos fáceis de se praticar); mas os esgotos domésticos, só com tratamento biológico.

Dos 4 métodos para o tratamento dos esgotos, principalmente para as pequenas comunidades, eu apostaria no valo de oxidação.[http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/esg4.htm]

Além de ter a mesma eficiência de uma estação de tratamento de esgotos (ETE) convencional, ocupa menos espaço, é bem mais barata e diminui os custos de construção da rede coletora. Assim, em vez de uma única ETE para atender a toda a cidades, pequenos VALOS estrategicamente localizados, seriam responsáveis por redes menores.

Na zona rural e na periferia de algumas cidades, os esgotos podem servir ainda, como nos campos de absorção, à sub-irrigação.[http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/esg3.htm]

Pode-se, inclusive, improvisar uma pequena ETE feita só com plantas aquáticas, como o aguapé.[http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/esg61.htm]

Pelos motivos acima, procure estudar mais sobre o assunto.

INCINERAÇÃO DO LIXO
Por conta da sua condição de país sub-desenvolvido e pouco investimento em pesquisa, o Brasil está sempre 20 a 30 anos atrasado, tecnologicamente, em relação à Europa e Estados Unidos. Infelizmente. Foi assim com a adoção de difusores de O2 no fundo dos reatores biológicos das ETEs; de indicadores biológicos (invertebrados aquáticos e peixes), na avaliação da degradação ambiental dos córregos e outros mananciais; com a aplicação de mantas têxteis nos aterros sanitários; e, agora, com a incineração generalizada dos seus resíduos sólidos domésticos (que ainda nem começou por aqui).

O Ibope divulgou, recentemente, os resultados de pesquisa realizada em todas as regiões do país, por encomenda da ONG ambientalista WWF-Brasil, sobre a percepção e atitude dos brasileiros em relação aos problemas do meio ambiente, mais especificamente ao uso da água.

Da pesquisa, destacamos a percepção espontânea de 10% da população brasileira de que o lixo é um dos nossos três principais problemas ambientais. Considerando que a poluição das águas, indicada por mais de 50% dos entrevistados como o principal problema ambiental brasileiro, é, em grande parte, causada pela destinação incorreta do lixo urbano, concluímos que o lixo é o grande vilão do meio ambiente em nosso país.

Uma solução muito difundida em passado recente --- os aterros sanitários --- é hoje evitada sempre que possível. Além do risco de contaminação das águas, sempre presente ainda que o aterro seja concebido dentro da melhor técnica, há as inevitáveis emanações do biogás resultante da degradação da matéria orgânica ali depositada, composto por cerca de 50% de gás metano (CH4), 21 vezes mais prejudicial ao aquecimento global do que o CO2. Na Europa, a proibição do envio de matéria biodegradável para os aterros é uma das principais metas de redução das emissões dos gases estufa. Mesmo as melhores técnicas de captura do biogás de aterro para geração de energia não obtêm eficiência superior a 70%.

Por outro lado, uma rota tecnológica muito criticada no final dos anos 80 aproveitou forte evolução técnica durante os anos 90 e hoje representa o que há de mais moderno em termos de destinação final dos resíduos urbanos: o tratamento térmico do lixo com geração de energia. Mais de 130 milhões de toneladas de lixo por ano são utilizados como combustível para geração de energia, em centenas de usinas espalhadas pelo mundo, totalizando potência instalada equivalente a uma Usina de Itaipu.

A Convenção de Estocolmo sobre poluentes persistentes (2001) relaciona o tratamento térmico dos resíduos urbanos entre as “melhores técnicas disponíveis e melhores práticas ambientais”, desde que atendidos preceitos técnicos básicos: combustão dos resíduos em elevada temperatura e tempo de residência adequado, sistemas fechados e purificação dos gases/vapores.[http://en.wikipedia.org/wiki/Incineration]

O Brasil é um dos poucos signatários da Convenção de Estocolmo que, mesmo possuindo tecnologia nacional desenvolvida de acordo com as recomendações da Convenção, ainda não dispõe de nenhuma instalação de tratamento de resíduos urbanos com geração de energia em operação comercial.

Surpreendentemente ainda há resistências, dentro e fora do governo, às tecnologias modernas de destinação final de lixo já consagradas no mundo.
(O Globo, O povo sabe, mas o governo resiste, Eng. Químico Jorge Pesce, caderno Opinião, p.7, 17/02/07; os grifos, sublinhados e link são nossos).

Japão, Suécia e Dinamarca, líderes no processo, tem muito a nos ensinar. Na Dinamarca, p.ex., é praticado há mais de cem anos.[http://www.wte.org/docs/100YearsofWasteIncinerationinDenmark.pdf]

ÁREAS DE RISCO
Um dos maiores problemas atuais dos Gestores Ambientais (de plantão), pelo menos à médio prazo, é o que fazer com a população e as (precárias) moradias nas áreas de risco: favelas, encostas, margens de rios e lagoas, áreas de preservação permanente, dunas, alagados, cabeceiras de pistas de aeroportos, margens de ferrovias e outras.

Estudo recente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas – IPEA, mostrou que 6,6 milhões de brasileiros vivem em residências superlotadas, verdadeiras latas de sardinha. Não só latas: papelão, plástico, sobras de construção, prédios abandonados, sob viadutos e até em cavernas !

Em várias dessas habitações, quanto ao problema dos esgotos, até hoje, os engenheiros sanitaristas não descobriram uma solução plausível para as casas construídas sobre palafitas, como as que abundam na Amazônia e na região dos alagados de Belém, Salvador, Recife e de outras cidades litorâneas.

Parcelamento do Solo Urbano
Este, é regido pela Lei No. 6.766 de 19/12/79, onde é proibida a construção de moradias em terrenos:
1) alagadiços e sujeitos a inundações;
2) que tenham sido aterrados com materiais nocivos à saúde pública;
3) em condições geológicas desfavoráveis à edificação; e
4) com declive igual ou superior a 30%.

O problema é: quem obedece ?
Para os Gestores: para onde transferir ? que tipo de moradia ? como remover ?

Soluções
A remoção de residências das áreas de risco, passa por: uma legislação mais rigorosa; o monitoramento da expansão urbana pela Prefeitura; ação enérgica da Defesa Civil nas desocupações; e, também, por soluções criativas para a oferta habitacional às populações de baixa renda, tais como.
a) cidade auto-sustentável, do CREA-RJ;
b) casas totalmente feitas de bambu;
c) pisos com argamassa de entulho;
d) paredes e lajes (flutuantes) de garrafas-PET; e
e) telhas de papelão reciclado (impermeabilizado).

Enquanto essas soluções não se difundem, o Serviço de Meteorologia Municipal deve providenciar um serviço de difusão de alerta (via rádio ou alto-falante), para evacuação das casas quando certos indicadores hidrológicos ou geotécnicos mostrarem eminência de desmoronamento.

Mobilidade Urbana
O baixo poder aquisitivo da população favelada, graças à inoperância do poder público, induz à construção próximo ao local do (possível) emprego, mesmo que ali seja uma área de risco. Isso torna problemática a (desejável) remoção para um local distante. Isso aconteceu na década de 60, quando o Governador Carlos Lacerda transferiu moradores de uma favela do centro do Rio de Janeiro para uma localidade às margens da Av. Brasil, que ficou conhecida como Vila Kennedy. Aliás, nesta comunidade, funciona há cerca de 40 anos, um dos mais antigos (e pioneiros) valos de oxidação do Brasil, operado pela CEDAE. Quando eu ainda lecionava na Universidade Rural, levava sempre meus alunos para visitá-lo.

O ex-Prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, resolveu o problema desocupando uma área relativamente pequena da favela e construindo ali um edifício alto, para alojar os desabrigados; e aproveitou para urbanizar a área. Os mutirões comunitários parecem ser outra alternativa viável. O transporte de massa com corredores exclusivos, como em Curitiba-PR, parece ser outra solução para o problema.

E você, caro Gestor Ambiental, pode dar a sua opinião ?

Autoria: José Luiz Viana do Couto
e-mail: jviana@openlink.com.br

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Poluição do solo

Atualmente considera-se que a contaminação dos solos é um dos principais problemas ambientais, por impactar as culturas, os animais, o homem, a água subterrânea e os mananciais de superfície. A degradação do solo ocorre pela desertificação, uso de técnicas agrícolas equivocadas, desmatamento, queimadas e contaminação (química ou biológica).

O solo é capaz de absorver grandes quantidades de poluentes sem sofrer grandes transformações, mas na medida em que sofre, elas são quase sempre irreversíveis e os danos causados são de difícil recuperação. Há que se destacar que as atividades que podem causar danos à qualidade do solo e plantas ocorrem no longo prazo e/ou em pontos esparsos, mas dada a sua freqüente gravidade é necessário que se tenha em mãos todo um conhecimento para que se possa combatê-los eficientemente. Os estudos para desvendar essa intrincada dinâmica são recentes nas diferentes regiões do mundo e são muito raros no nosso meio.

Conforme o DL No. 28.687/82, art.72, poluição do solo e do subsolo consiste na deposição, disposição, descarga, infiltração, acumulação, injeção ou enterramento de substâncias ou produtos poluentes, em estado sólido, líquido ou gasoso.

A persistência da contaminação dependerá da eficiência dos processos físicos de transformação, tais como a evaporação, lixiviação, erosão e absorção pelas culturas. Somente a conversão total ou a mineralização da substância em elementos ou compostos amplamente distribuídos na natureza e que podem entrar nos ciclos biogeoquímicos é que representa descontaminação.

CARACTERÍSTICAS
O solo para nós, Agrônomos, é a camada da terra intemperizada, ou seja, a que vai (na vertical) da superfície à rocha dura que o formou. Para as plantas, o solo ideal contém uma fração sólida e outra flúida: a 1a. seria formada por 45% de minerais e 5% de matéria orgânica e a 2a., 30% de água e 20% de ar.
O Latossolo Roxo, encontrado em SP, PR e outros poucos estados, é o que mais se aproxima, com 35, 7, 32 e 26% respectivamente (A Água em Sistemas Agrícolas, Klaus Reichardt, ed.Manole, SP, 1987, p.28).

Uma das principais características dos solos (além da sua biologia) é a textura, ou seja, a proporção de elementos minerais: argila, silte e areia. O solo arenoso é pobre em nutrientes, mas deixa passar a água com facilidade; justamente o contrário do argiloso. Assim, um engenheiro ambiental saberá que a classe de solos arenosos conhecidos como Neossolos regolíticos, por exemplo, não será adequado para a disposição de lixo tóxico porque o excesso de drenagem poderá levar os contaminantes para as águas subterrâneas ou até superficiais. O poder dos Latossolos em reter água é melhor em relação aos Cambissolos, que são bastante drenáveis devido a sua granulometria.

A saúde ou qualidade de um solo em geral está relacionada a teores adequados de matéria orgânica, boa estrutura (agregados mais poros), cobertura vegetal impedindo a erosão, biodiversidade, principalmente no que se refere aos microrganismos e alguns outros fatores. Um solo não pode ser simplesmente usado, para qualquer que seja o fim, ele deve ser manejado, de preferência bem manejado. Da mesma forma que a água, ele é um recurso natural renovável, mas a renovação de um solo é muito lenta, um centímetro de solo pode levar mil anos ou mais para ser formado. Definitivamente, este recurso natural não pode ser tratado como uma simples lata de lixo.
http://lablogatorios.com.br/geofagos/tag/contaminacao-do-solo/

IMPORTÂNCIA
O solo desempenha uma grande variedade de funções vitais, de caráter ambiental, ecológico, social e econômico, constituindo um importante elemento paisagístico, patrimonial e físico para o desenvolvimento de infra-estruturas e atividades humanas.
O solo é um meio vivo e dinâmico, constituindo o habitat de biodiversidade abundante, com padrões genéticos únicos, onde se encontra a maior quantidade e variedade de organismos vivos, que servem de reservatório de nutrientes. Uma grama de solo em boas condições pode conter 600 milhões de bactérias pertencentes a 15.000 ou 20.000 espécies diferentes. Nos solos desérticos, estes valores diminuem para 1 milhão e 5.000 a 8.000 espécies, respectivamente.

Nos últimos 40 anos, cerca de um terço dos solos agrícolas mundiais deixaram de ser produtivos do ponto de vista agrícola, devido à erosão. A desertificação também, aumenta cada vez mais. E a salinização dos solos irrigados, idem.

Em termos ambientais, o solo é importante por:
a) servir de substrato para as plantas e as florestas;
b) armazenar água subterrânea para consumo;
c) ser fonte de matéria prima para indústria e mineração;
d) servir de depósito para os nossos rejeitos (lixo, esgoto, etc.); e
e) contribuir para o balanço energético global (temperatura) com os oceanos.

Por outro lado, a sua poluição, afeta as suas propriedades (físicas, químicas e biológicas), contamina a água subterrânea e as plantas que nele vivem. A contaminação do solo tem-se tornado uma das preocupações ambientais, uma vez que, geralmente, ela interfere no ambiente global da área afetada (solo, águas superficiais e subterrâneas, ar, fauna e vegetação), podendo mesmo estar na origem de problemas de saúde pública.

O solo é um recurso natural vital para o funcionamento do ecossistema terrestre e dos ciclos naturais. Apresenta inúmeras funções - uma delas é atuar como um filtro, graças a sua capacidade de depurar grande parte das impurezas nele depositadas; ele age também como um “tampão ambiental”, diminuindo e degradando compostos químicos prejudiciais ao meio ambiente. Essa capacidade de filtração e tamponamento, no entanto, é limitada, podendo ocorrer alteração da qualidade do solo em virtude do efeito acumulativo da deposição de poluentes atmosféricos, da aplicação de defensivos agrícolas e fertilizantes e da disposição de resíduos sólidos industriais, urbanos, materiais tóxicos e radioativos.

Vale ressaltar o papel de “filtro” exercido pelo solo, principalmente devido à presença de cargas elétricas nas argilas e na matéria orgânica do solo. Estas cargas têm o potencial não só de reter os elementos químicos que servem de nutrientes para as plantas, mas também de reter poluentes orgânicos e inorgânicos, impedindo-os de chegar aos corpos d’água.

O contaminante pode se apresentar no solo de 3 formas: 1 – livre (produto livre e puro); 2 – adsorvido (preso nas partículas); ou 3 – dissolvido (na água subterrânea). O tipo de remediação dependerá de como o contaminante se encontra no solo, sendo que a biorremediação (uso de microrganismos) poderá trata-lo diretamente nas 3 fases.

O Centro de Tecnologia Mineral do MME – CETEM adota a Biorremediação de solos argilosos contaminados, com o emprego de microrganismos presentes no próprio solo e a criação de condições para que eles cresçam e degradem os contaminantes.

CAUSAS DA POLUIÇÃO DO SOLO
As principais ameaças sobre o solo são a erosão, a mineralização da matéria orgânica, redução da biodiversidade, a contaminação, a impermeabilização, a compactação, a salinização, o efeito degradante das cheias e dos desabamentos de terras. A ocorrência simultânea de algumas destas ameaças aumenta os seus efeitos, apesar de haver diferentes intensidades regionais e locais (os solos não respondem todos da mesma maneira aos processos de degradação, dependendo das suas próprias características).
Listamos abaixo as principais causas da poluição dos nossos solos:
a) Adubação da cana-de-açúcar com vinhaça ou vinhoto;
b) Infiltração do chorume em aterros sanitários e lixões;
c) Corretivos, fertilizantes e agrotóxicos (agricultura);
d) Solventes, tintas, PCBs e metais pesados (indústrias);
e) Necro-chorume dos cadáveres (cemitérios);
f) Derramamento de gasolina nos postos de combustíveis;
g) Desastres no transporte de produtos químicos em rodovias;
h) Animais domésticos (urina e fezes) nas praias e praças públicas;
i) Depósitos de rejeitos (químicos) industriais e de mineradoras;
j) Salinização de áreas irrigadas (sem drenos) com água salobra;
k) Chuva ácida (modifica o pH do solo em 2 ou mais unidades);
l) Lodo de esgoto (com metais pesados) das ETEs; e
m) Outras.

O volume de lodo de esgoto sanitário de uma ETE representa cerca de 1 a 2% do volume do esgoto tratado. Seu tratamento e disposição final podem alcançar até 60% do custo operacional da ETE, sendo um dos problemas mais complexos que enfrenta o engenheiro responsável. Boa parte desse lodo vai ter no solo.

Nas zonas urbanas, um dos principais poluentes dos solos é a gasolina derramada nos postos de serviço. Em São Paulo foi criado o Cadastro de Áreas Contaminadas da CETESB. Em 2006 foram identificadas 1.822 áreas no Estado, das quais 1.352 (mais de 74%) pertenciam a postos de gasolina. Na grande São Paulo foram 972 registros e 594 só na capital. Por isso, foi criada a Res. Conama 273/00: Programa de Licenciamento de Postos.

O Ministério da Saúde criou o programa Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Solo Contaminado – VIGISOLO, mostrando em seu site resumos de relatórios de avaliação de risco nas localidades onde já ocorreram contaminações: Cidade dos Meninos (organoclorados)/RJ, Santo Amaro da Purificação (chumbo)/BA, Basf-Paulínia (agrotóxico)/SP e outras.

MÉTODOS DE DESCONTAMINAÇÃO
Se o estudo de solos contaminados é recente, a investigação e desenvolvimento de processos e tecnologias de tratamento o é ainda mais. A abordagem das áreas contaminadas considera, normalmente, três fases fundamentais:

1 - Identificação das áreas contaminadas (inventários)
2 – Diagnóstico e avaliação das áreas contaminadas
3 - Tratamento das áreas contaminadas.

Atualmente consideram-se três grandes grupos de métodos de descontaminação de solo:

1) Descontaminação no local ("in-situ")
2) Descontaminação fora do local ("on/off-site")
3) Confinamento/isolamento da área contaminada.

Esta 3ª opção não se trata verdadeiramente de um processo de descontaminação, mas sim de uma solução provisória para o problema. O tratamento do solo como
metodologia de recuperação de áreas contaminadas é uma alternativa cada vez
mais significativa relativamente à sua deposição em aterros sanitários, devido essencialmente ao aumento dos custos envolvidos.

Entre os métodos mais utilizados encontram-se:
a) térmicos;
b) físico-químicos;
c) biológicos;
d) aterros industriais;
e) dessalinização; e
f) especiais (vitrificação).

Uma das técnicas mais recomendadas e adequadas atualmente de remediação desses meios contaminados é o tratamento biológico ou a biorremediação (item c).
Algumas técnicas de biorremediação: biorremediação passiva, bioaumentação, bioestimulação, fitorremediação, landfarming, compostagem e biorreatores.

A técnica do encapsulamento do solo com cimento é extensamente usada, porque pode oferecer garantia de estabilização química de muitos contaminantes e produzir uma forma mecanicamente estável do resíduo.
A Embrapa Meio Ambiente desenvolveu um método simples, em pequena escala, que consiste em colocar o solo contaminado em cilindros metálicos (de Fe, Al ou Cu) e deixá-los expostos ao sol durante um dia, numa caixa de madeira sob cobertura de plástico transparente. Mas só elimina microrganismos (fungos, bactérias e nematóides nocivos às plantas). Dimensões da caixa e dos tubos:
1,5 x 1,2 x 0,3m para 6 tubos de 1,1m cada e 15cm de diâmetro (120L cada); ou
1,4 x 1,2 x 0,2m para 7 tubos de 1,1m cada e 12,5cm de diâmetro interno.

A seleção do método apropriado constitui um processo complexo, envolvendo considerações detalhadas das características do local (fatores geológicos e hidrogeológicos), do poluente, da população microbiana presente no local, e um estudo da viabilidade técnico-econômica de aplicação das várias alternativas para o local específico.

BIBLIOGRAFIA
Reações e processos:
http://www.cpgmne.ufpr.br/docente/andrea/TC019_Contaminacao_de_solos.pdf
Prevenção e gestão:
http://www.cetesb.sp.gov.br/rede/default.asp
Remediação do solo:
http://ambiente.hsw.uol.com.br/contaminacao-dos-solos6.htm
Coletor solar da Embrapa:
http://www.cnpma.embrapa.br/public/public_pdf21.php3?tipo=lt&id=28
Biorremediação:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84782007000400049&lng=pt&nrm=iso
Áreas contaminadas de Sampa (Cetesb):
http://www.cetesb.sp.gov.br/Solo/areas_contaminadas/relacao_areas.asp
Gerenciamento de áreas contaminadas:
http://www.cetesb.sp.gov.br/Solo/areas_contaminadas/proced_gerenciamento_ac.pdf
VIGISOLO – Ficha de campo:
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/ficha_de_campo_e_instrutivo_de_preenchimento.pdf
Manejo ecológico:
http://www.orkut.com.br/Main#CommMsgs.aspx?cmm=203838&tid=2451596441700943399

Autoria: José Luiz Viana do Couto
e-mail: jviana@openlink.com.br

O grande vilão

Não resta dúvida que o grande vilão do meio ambiente no Brasil são os esgotos, que podem ser industriais ou domésticos. No momento, vamos tratar do segundo.

ESGOTO DOMÉSTICO é a água das residências que contem dejetos (produzidos pelo homem, é claro). Seu conteúdo é: água de banho, urina, fezes, papel higiênico, restos de comida, sabão, detergente e água de lavagens. O que se chama de esgotamento sanitário é o conjunto de 3 ações: coleta, tratamento e disposição final. Vejamos cada uma delas.

A coleta consiste num sistema de tubos de cerâmica ou PVC que conduzem por gravidade as águas residuárias, da residência ao local de tratamento ou disposição final. Para se ter uma idéia da vazão de esgotos, usa-se a fórmula abaixo:
Qd = 1,44.p.q/86400 onde:
Qd = vazão doméstica (l/s)
1,44 = coef.retorno (0,8), dia (1,2) e hora (1,5) de maior consumo
p = população servida (habitantes)
q = vazão de consumo de água potável (l/dia.hab)
86400 = coef. de transformação de unidade (l/dia para l/s)
Se considerarmos uma comunidade com mil pessoas e um consumo de água de 200 l/hab.dia, teremos para a vazão de esgotos:
Qd = 1,44 x 1000 x 200 / 86400 = 3,3 l/s
À esta, devemos somar a vazão de infiltração na rede que, se a tubulação for de cerâmica vitrificada e a extensão da rede de um quilômetro, teremos:
Qi = inf.km = 0,0005 x 1000 = 0,5 l/s
Assim, a vazão total nesse trecho da rede e para esta população e infiltração, será:
Qt = Qd + Qi = 3,3 + 0,5 = 3,8 l/s

O tratamento consiste em tornar (bem) menos agressivo o esgoto quando ele for lançado no corpo receptor (destino final). Observe a reação química abaixo, que representa simplificadamente o que acontece com os esgotos domésticos:
C6H12O6N (compostos orgânicos) + O2 (oxigênio) ---> H2O (água) + CO2 (gás carbônico) + NH3 (amônia) + energia
Duas observações: em cima da seta, considerar a ação de bactérias aeróbicas e, após a mesma, os três produtos são compostos minerais.

Assim, tratar esgoto doméstico significa, resumidamente, transformar compostos orgânicos em compostos minerais, pela ação de bactérias. Estas, não precisam ser inoculadas, pois são comuns no esgoto. O Oxigênio (do ar, em geral) pode ser introduzido nas águas servidas por pás mecânicas giratórias acionadas por motores elétricos; acontece nos valos de oxidação, nas lagoas aeradas e nas ETEs de lodos ativados. Ao morrerem, essas bactérias formam um lodo, que precisa ser retirado do sistema por decantação. Só isso.

A disposição final dos esgotos apresenta muitas soluções. Neste esquema didático, mostro o caminho que ele segue assim que deixa as nossas casas:
http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/esg2.htm
Como pode ver, há soluções que nem precisam de canos (caso da fossa seca ou “casinha”); as chamadas “convencionais”; as redes de esgoto condominiais; e aquelas inovadoras, que usam até aguapés e lentilhas d´água (plantas aquáticas) para o seu “tratamento”. Mais alguns detalhes sobre o dimensionamento hidráulico da rede de esgotos, mostro (ao final) em minha página, no endereço;
http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/esg5.htm.
Há cerca de 20 anos no Brasil e a milênios em outros países, os esgotos vêm sendo aplicados nos solos como insumo básico da irrigação. Mas isso fica para outro capítulo.

ESGOTO NA IRRIGAÇÃO

A irrigação (Agricultura) retira 70% da água dos rios. Por sua vez, jogamos fora 80% da água potável (servida), sob a forma de esgoto. Então, por que não usar essa água na irrigação ?

Segundo a revista Irrigação & Tecnologia Moderna – ITEM (n.78,p.41,2008), nas duas últimas décadas, o uso de águas de qualidade inferior na agricultura aumentou significativamente, em razão dos seguintes fatores: dificuldades na busca por fontes alternativas de águas para irrigação; custo elevado de fertilizantes; custo elevado de sistemas de tratamento de efluentes e reconhecimento do valor da atividade pelos órgãos gestores de recursos hídricos.

No grupo das águas de qualidade inferior incluem-se: os efluentes de origem doméstica e industrial, o efluente de lodo de esgoto (com mais de 95% de água), os dejetos líquidos de animais, os efluentes do processamento de produtos vegetais; os efluentes da indústria de celulose e papel; os efluentes de agroindústrias; os efluentes de sistemas de drenagem; as águas salinas; e as águas ferruginosas.

A utilização de águas residuárias na agricultura irrigada pode ser uma forma efetiva de controle da poluição, aumento da disponibilidade hídrica, redução na demanda de fertilizantes para adubação convencional apresentando, assim, benefícios econômicos, sociais e ambientais podendo contribuir para melhoria das condições de saúde pública.

Durante o XVIII Conird (Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem, realizado em São Mateus-ES este ano), houve uma oficina tratando da “Utilização Sustentável de Águas Residuárias na Agricultura Irrigada”, onde foram abordados os seguintes temas: manejo, equipamentos, tratamento e uso na agricultura irrigada de águas residuárias da despolpa e lavagem dos frutos do cafeeiro; da suinocultura e da bovinocultura; técnicas de tratamento e aplicação sustentável do esgoto doméstico para uso na agricultura irrigada; diretrizes para utilização de esgoto sanitário tratado na fertirrigação de culturas; técnicas de tratamento de efluentes de laticínio para uso na agricultura irrigada; perspectivas do uso de águas residuárias provenientes da indústria sucroalcooleira na agricultura irrigada. No encerramento, esperava-se dos participantes a finalização de um documento contendo as diretrizes sobre o uso de águas residuárias de forma sustentável na agricultura irrigada.

JUSTIFICATIVAS
1) Cerca de 90% de toda irrigação em Israel é feita com o reuso da água de efluentes. Isso também acontece nos Estados Unidos, México, Oriente Médio e outros países/regiões do mundo.
2) São Caetano – SP foi o 1o. município do país a utilizar água obtida do tratamento de esgotos para irrigação e combate a incêndios. Essa água também pode ser usada na rega de locais públicos e limpeza de ruas.
3) Em junho de 2001 a Sabesp (Cia. de saneamento de SP) já vendia essa água a R$ 0,60/m3, enquanto a potável custava R$ 4,00/m3. Portanto, há vantagens econômicas consideráveis.
4) Atualmente cerca de 82% da população brasileira se concentra nas cidades e o consumo aí é maior que na zona rural havendo, portanto, bastante água para ser usada nos “cinturões verdes” e hortas periféricas.
5) Diversos pesquisadores brasileiros que integram o Programa de Pesquisas em Saneamento Básico – PROSAB estão realizando estudos para utilização do efluente das ETEs na irrigação.
6) No Brasil, a maior parte das iniciativas de reuso da água está no setor industrial, onde é especialmente útil.
7) A Organização Mundial de Saúde – OMS assegura que o tratamento primário de esgotos domésticos já é suficiente para torná-los adequados à irrigação de culturas de consumo indireto. No entanto, recomendam-se tratamentos secundário e terciário quando estas águas forem utilizadas na irrigação das culturas para consumo direto, como as hortaliças.
8) Os nutrientes e a matéria orgânica dos esgotos domésticos favorecem a fertilização do solo, melhorando a produtividade das culturas.

PRECAUÇÕES
O controle sanitário das águas utilizadas na irrigação de hortaliças consumidas pela população, principalmente no que se refere àquelas ingeridas cruas, é de grande importância em Saúde Pública, uma vez que podem servir de veículo de contaminação desses alimentos. Entre os germes patogênicos comumente encontrados nos esgotos domésticos, estão: bactérias, protozoários, helmintos (vermes) e vírus. São bactérias (Salmonela, Clostridium, Escherichia, Brucella), protozoários (Entamoeba, Giardia, Balantidium), helmintos (Áscaris, Trichuris, Ancylostomas, Necator, Enterobius, Hymenolepis, Tênias, Strongyloides), virus (o da Poliomielite, inclusive) e outros bichos (literalmente).

Quanto ao solo, devem ser avaliados os aspectos de sodicidade (o aumento do teor de sódio pode causar toxidez a algumas culturas e modificar propriedades importantes do solo), salinidade, excesso de nutrientes (N-P-K), amonificação do lençol freático (se o teor de N-NH3 for superior a 30 mg/L), alteração do pH (os limites devem ficar entre 6,5 e 8,4) e outros.

O QUE DIZ A LEGISLAÇÃO
O padrão de coliformes fecais e de ovos de helmintos recomendado pela Organização Mundial de Saúde (WHO na sigla em inglês, 1989) para irrigação irrestrita é:
a) <1.000cf/100ml ph="7,9;" ce="1,4dS/m" nh3="31,5mg/L;" p="4,9mg/L;" k="25,2mg/L;" dqo="107mg/L;" helmintos="153" cf="1,4x10^5/100mL." class="smller">CHORUME EM ATERROS Um dos problemas mais importantes no projeto e operação dos aterros sanitários é o manejo do chorume, gerado quando a água (da chuva, principalmente) passa através do lixo. Ao lado do vinhoto ou vinhaça da cana-de-açúcar, é um dos maiores poluentes orgânicos conhecidos.

Muitos fatores influem na produção e composição do chorume. Um dos mais importantes é o micro-clima sobre o aterro: chuva e temperatura. A topografia do terreno também influi no escorrimento superficial da água da chuva, que pode contribuir ou não para a produção do chorume, caso penetre ou não na massa de resíduos. A lista dos 6 principais fatores que afetam a sua produção é:
1) Clima;
2) Topografia;
3) Material de cobertura final do aterro;
4) Cobertura vegetal (depois de encerrado);
5) Fase atual e procedimentos operacionais; e
6) Tipo de resíduos sólidos urbanos (RSU).

A estimativa da produção de chorume é um parâmetro de projeto crítico no desenho de um aterro sanitário. O volume produzido causará elevado impacto ambiental (contaminando o lençol freático, os poços e córregos próximos) e também nos custos de operação (do aterro), coleta e tratamento. A estação de tratamento de chorume – ETC (que dimensionei no tópico abaixo), deve ser concebida para funcionar com a vazão máxima.

VOLUME DO CHORUME
No Manual do Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM, indicado por mim no dia 21/01/05 no tópico Projeto de aterro sanitário da Comunidade Gerenciamento de Resíduos (endereço abaixo), primeiramente calcula-se a área do aterro multiplicando a produção de lixo (m3/d) pela constante 560 (relacionada a vida útil = 20 anos; altura do aterro = 20 m; taludes de 1:3 e ocupação de 80% do terreno com a área operacional). Depois, multiplica-se esta área (m2) por 0,0004 (se o material de cobertura do aterro for argiloso, o que é desejável), para se obter a produção de chorume (m3/d).
Como o amigo pode observar, trata-se de uma metodologia muito empírica e “bitolada”. Pior é que o assunto é muito pouco estudado no Brasil, ou seja, há poucas alternativas de cálculo. Os sites do exterior, principalmente alguns dos EUA e Inglaterra, são mais explícitos. Ao final, darei o endereço de alguns.

MÉTODO DO BALANÇO HÍDRICO
Um dos mais racionais mostra esquematicamente o aterro, em seção transversal, como se fora um hexágono (polígono de 6 lados) alongado horizontalmente. Na parte de cima, há 2 setas, uma em direção ao solo (indicada por P de precipitação ou chuva) e outra em sentido contrário (indicada por E de evapo-transpiração). Os extremos da figura se prolongam para as laterais, indicando a superfície do solo. Nos lados que indicam os taludes (paredes inclinadas), há 2 setas curvas, que representam o escorrimento superficial da água da chuva (indicadas por R de run-off, em inglês). No interior do polígono há outra setinha, apontada para baixo, significando a retenção da umidade pela massa de RSU e consumida nas reações químicas que se processam nas 4 fases biológicas do aterro (designada por W de water, água em inglês). Finalmente, na parte de baixo da figura, há 2 setinhas apontadas para baixo, uma ao lado da outra, representando o chorume (e designadas pela letra Q, símbolo que, em Hidráulica, representa a vazão ou descarga). A fórmula matemática que representa o conjunto é dado por:
Q = P – E – R – W + I (fórmula adaptada, da Universidade da Flórida, EUA)
Todos esses símbolos foram explicados aí em cima, menos a possível infiltração (letra I) que pode ocorrer lateralmente, se a área externa do aterro não contiver um dreno de cintura, ou seja, contornando toda a área, para evitar que a água da chuva empoçada penetre no aterro.

Agora surgem 2 probleminhas para os Gestores/Engenheiros Ambientais: os cálculos da evapotranspiração e do escorrimento superficial ou run-off, que pertencem à Agronomia/Engenharia de Irrigação e à Hidrologia, respectivamente.

Ao final do post darei o “caminho das pedras”. Chamo a atenção para o uso do bom senso durante este raciocínio, pois costuma-se calcular a produção de chorume num único mês pois, se ele for o mais seco do ano, diminui P (chuva) e maximiza E (evapotranspiração); e vice-versa.

MÉTODO SUIÇO
Uma fórmula mais simples, conhecida como método suíço, é dada por:
Q = (P.S.K)/t onde,
Q = vazão de chorume (l/s)
P = chuva média (mm/ano)
S = área do aterro (m2)
K = coeficiente de compactação (tabelado)
t = tempo contido em um ano (365d x 86400s = 31.536.000s)
Valores de K:
a) compactação fraca = 0,25 a 0,50
b) compactação forte = 0,15 a 0,25

MANEJO DO CHORUME
Não basta estimar a produção de chorume do aterro; há vários procedimentos técnicos para maneja-lo convenientemente, tais como:
a) recirculação (no próprio aterro);
b) evaporação (para diminuir seu volume);
c) tratamento (ETC) seguido de disposição;
d) disposição do chorume em ETEs (estações de esgoto); e
e) combinação dos métodos acima.
Para se ter uma idéia, trabalhos consultados por mim na Internet mostraram que a recirculação do chorume, p.ex., reduz a DQO de 15.000 mg/l para menos de 2.000 mg/l no período de um ano.

CINCO DETALHES
1 – Vi num site estrangeiro a expressão:
Q = I – E – a.W onde,
Q = vazão de chorume (m3/ano)
I = aporte ou infiltração de água (m3/ano)
E = perdas por evaporação (m/ano)
a = capacidade de absorção de água do lixo (m3/t)
W = peso do lixo depositado no aterro (t/ano)

2 – Produção de gás do lixo (GDL)
GDL = 1868.C.(0,014.T + 0,28) onde,
GDL = gás do lixo (m3/t)
C = conteúdo de matéria orgânica do lixo (kg/t)
T = temperatura (oC)
O volume de água perdido pelo lixo sob a forma de vapor durante a geração do GDL pode ser estimada em 0,01 kg/m3 de GDL produzido.

3 – A chuva que realmente incide sobre a massa de RSU (lixo) é chamada de Chuva Efetiva e pode ser calculada pela expressão:
Pe = (1 – c).P onde,
Pe = chuva efetiva (mm)
c = coeficiente de run-off (tabelado)

P = chuva incidente sobre o aterro (mm)

4 – NECROCHORUME = líquido produzido pela decomposição dos cadáveres nos cemitérios, composto sobretudo pela cadaverina, uma amina (C5H64N2) de odor repulsivo, subproduto da putrefação. Existem vários casos de contaminação da água de poços em residências localizadas próximas a cemitérios.

5 – LIXÕES. Em cerca de 64% dos municípios brasileiros o lixo doméstico, quando recolhido, é jogado nos lixões, onde não há qualquer controle do chorume, que contamina o solo, a água subterrânea e os rios mais próximos.

PALAVRAS-CHAVE
Para pesquisa do assunto no Google: Leachate Production
Aterro sanitário, em inglês: Landfill.

CAMINHO DAS PEDRAS
Dados sobre o chorume:
www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/reciclagem/chorume.php
Cartilha sobre RSU:
www.resol.com.br/cartilha4/
Cálculo do chorume em aterros na Univ. da Flórida:
http://msw.cecs.ucf.edu/landfills.html
Site da Inglaterra sobre chorume:
www.landfillpipe.co.uk/Leachate_design.htm
Cálculo da evapo-transpiração:
www.fao.org/docrep/S2022E/s2022e07.htm
(fórmula de Blaney-Criddle da ETP)
http://jviana.multiply.com/journal/item/13
(Ajuda que veio de céu – Quanto as plantas bebem)
Tabela do Coeficiente de Run-Off (Fórmula Racional):
www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/drena1.htm
Dados climatológicos (chuvas, temperatura, etc.):
www.inmet.gov.br

Autoria: José Luiz Viana do Couto
e-mail: jviana@openlink.com.br

Bacia hidrográfica

Bacia hidrográfica é a área de drenagem de um rio. Desde 1997 (com a Lei No. 9.433/97 dos Recursos Hídricos), qualquer ação do homem sobre o ambiente deve considerar, não a divisão territorial, mas os limites da bacia. Como você pode imaginar, todos os problemas ambientais ocorrem nesta área, e não são poucos. Assim, o diagnóstico da situação dos recursos hídricos na bacia hidrográfica, pela diversidade e amplitude das ações, é uma das tarefas mais complexas dos Gestores Ambientais.

O assunto é tão interessante (e ainda pouco estudado) que, como lecionei durante alguns anos numa Universidade esta disciplina (Hidrologia), cheguei a criar dia 29/09/05 um tópico chamado “A Bacia como palco de ação”. Se não leu, vale a pena conferir. Fecha parêntesis.

No último Congresso Brasileiro da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental – ABES, realizado nos dias 2 a 7 de setembro de 2007 em Belo Horizonte – MG, os Engenheiros Civis Michele Correa e Bernardo Teixeira, da UFSCA, apresentaram um trabalho (*) sistematizando os principais problemas da bacia dos rios Tietê-Jacaré – SP, que são praticamente os mesmos das demais bacias brasileiras. Eis um resumo.

PROBLEMAS DAS BACIAS
Alguns problemas ambientais comuns verificados nas bacias hidrográficas brasileiras são listados à seguir:
> Ausência total de tratamento de esgotos;
> Tratamento de esgotos insuficiente;
> Elevado custo do tratamento pela má qualidade da água;
> Poluição industrial;
> Indústrias operando sem licença ambiental;
> Uso intensivo de agrotóxicos e fertilizantes;
> Irrigação excessiva e/ou inadequada;
> Consumo per capita acima da média;
> Ausência de estações hidrometeorológicas;
> Dispositivos de drenagem urbana insuficientes;
> Ocorrência de eventos críticos (enchentes e inundações);
> Ocupação irregular em APP (margens, encostas, várzeas, etc.); e
> Outros.

OBJETIVO DO TRABALHO
Propor Indicadores de Sustentabilidade para diagnosticar os problemas da bacia, com vistas à proposição de metas e ações nas áreas deficientes ou a priorização das metas já propostas pelo Comitê de Bacia. A continuidade do monitoramento permitirá a avaliação da eficiência da implementação destas ações, e visando a melhoria continua sob a ótica da sustentabilidade deve-se prever, em estudos futuros, a agregação e adaptação de outros indicadores.

OS INDICADORES
1 – Gestão participativa (1 indicador)
2 – Solução negociada de conflitos (1 ind.)
3 – Valor econômico (2 ind.)
4 – Universalização do acesso (4 ind.)
5 – Uso responsável (6 ind.)
6 – Planejamento integrado, sistemático e abrangente do uso (7 ind.)

Recomenda-se que os indicadores sejam aplicados anualmente para verificação da evolução de cada um deles, bem como para avaliar a efetividade das ações propostas a partir das análises do período anterior.

(*) Desenvolvimento de Indicadores de Sustentabilidade para Gestão de Recursos Hídricos no âmbito de Comitê de Bacia Hidrográfica.

Autoria: José Luiz Viana do Couto
e-mail: jviana@openlink.com.br

Entulho

A gestão de resíduos oriundos das atividades de construção civil representa um grande problema para os municípios, devido ao grande volume de materiais gerado e aos impactos ambientais associados à sua disposição irregular, principalmente nas grandes cidades brasileiras. Pinto (1999) estimou que essa massa de entulho pode chegar a 70% do total dos resíduos sólidos urbanos produzidos. A origem do entulho é variada: demolição, construção e reforma de edificações, obras viárias, escavações, limpeza de terrenos e outras.

COMPOSIÇÃO
O entulho é formado por argamassa, cerâmica vermelha, cerâmica polida, concreto, pedras, gesso, madeira, papel/papelão, plástico, metais, vidro, cimento-amianto, solo/areia, canos, fios e outros materiais usados na construção civil.

PROBLEMAS
Os principais problemas relacionados à destinação irregular dos entulhos são: ocupa o lugar do lixo nos aterros sanitários, diminuindo sua vida útil; obstrui a drenagem natural, causando enchentes; provoca a proliferação de vetores de doenças; causa poluição visual; desperdiça materiais que podem ser utilizados; etc. O custo total estimado do entulho depositado em depósitos clandestinos é de US$10/m3.

SOLUÇÕES
A reutilização e a reciclagem do entulho, juntamente com a redução da quantidade gerada, são alternativas para a redução dos problemas citados. É possível produzir agregados (areia, brita e bica corrida para pavimentação), contenção de encostas, canalização de córregos, fabricação de blocos, placas, briquetes, tubos para drenagem e, logicamente, reusá-los como argamassa e concreto reciclados. Outros usos do entulho podem ser a conservação de estradas de terra e o aterramento na construção de edificações novas. O custo da reciclagem é estimado em US$2,5/ m3.

VANTAGENS
A produção de agregados com base no entulho pode gerar economias de mais de 80% em relação aos preços dos agregados convencionais. A partir deste material é possível fabricar componentes com uma economia de até 70% em relação a similares com matéria-prima não reciclada.

TRABALHO DO GESTOR
Os três passos que a Prefeitura deve dar para resolver o problema são:
1) Proceder a um levantamento da produção de entulho na cidade;
2) Estimar custos da deposição irregular do mesmo; e
3) Determinar a tecnologia a ser empregada, os investimentos necessários e a aplicação dos resíduos reciclados.

LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
A Norma que desde junho de 2004 regula os resíduos de construção e demolição (RCD) é a Resolução CONAMA N.307/2002. Proíbe sua destinação em aterros de resíduos domiciliares, áreas de bota-fora, encostas, corpos d´água, lotes vagos ou em áreas legalmente protegidas. Prevê ainda a obrigatoriedade do Plano Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil.

FONTES DE CONSULTA
www.mma.gov.br/port/conama/res/res02/res30702.html
www.brasilengenharia.com.br/sumario.asp?ed=547&cod=392
www2.fpa.org.br/portal/modules/news/article.php?storyid=2550
Diagnóstico da Gestão dos Resíduos da Construção e Demolição (RCD) no Município de Palmas-TO, Engenheira Ambiental Paola C.Almeida et al., Anais do 24o. Congresso Brasileiro da ABES, Belo Horizonte-MG, set 2007.

Autoria: José Luiz Viana do Couto
e-mail: jviana@openlink.com.br

Uma luz sobre a floresta

(Revista Época Negócios, n.17, jul.08, p.132)

Esqueça o boi, a soja ou o madeireiro ilegal. O maior vilão da Amazônia é nossa incapacidade de entender seus problemas.

De vez em quando alguém das comunidades (do Orkut) me pergunta sobre a Amazônia (mesmo sem saber que eu nasci lá, em Belém, onde fiquei até os 19 anos, antes de vir morar no Rio). Numa dessas, de uma estudante de Eng. Amb. da Univ. do Pará, cheguei a criar um tópico: “Prioridades Ambientais”. A mais recente (veja minha página de recados nos dias 11 e 12 de agosto p.p.) foi a Geógrafa Lizandra, especialista em avaliação e impacto ambiental, que pedia orientação por sentir-se “perdida e sem rumo” em São Gabriel da Cachoeira; no meio da mata, segundo suas palavras. Os maiores problemas da região apontados pela revista, resumo aí em baixo.

1 – DIVERSIDADE REGIONAL
Ao contrário de uma imensa e uniforme mancha verde, a Amazônia Legal tem 521 milhões de hectares, 22 milhões de habitantes e 9 estados, com realidades sociais, econômicas, políticas e ambientais distintas.

2 – DIFERENTES VISÕES
A Amazônia interessa à população local, aos madeireiros ilegais, especuladores imobiliários, fazendeiros, cientistas, ambientalistas e outros grupos. Cada qual tem seus motivos (racionais, emocionais, ideológicos) e procura defender sua visão particular sobre os problemas regionais. É irreal imaginar que seja possível buscar uma solução sem considerar as diferentes visões.

3 – GOVERNO NÃO SABE O QUE FAZER
O governo brasileiro não sabe o que quer da Amazônia e, muito menos, como solucionar seus problemas. A sustentabilidade trata da convergência entre o econômico, o social e o ambiental, mas a gestão da Amazônia é um exemplo de divergência. A nebulosidade institucional (presença do Ibama, Funai, Instituto Chico Mendes, Incra, Instituto de Terras, etc.) alia-se à corrupção e à submissão da floresta aos interesses políticos de oligarquias que se mantêm no poder graças à venda de favores a madeireiros ilegais e especuladores fundiários.

4 – TERRA SEM DONO
Enquanto se discute a soberania brasileira em relação à Amazônia, uma outra questão permanece sem solução: o problema fundiário. A Amazônia, hoje, é terra de ninguém. Após um amplo estudo sobre imóveis rurais na região, o Instituto Imazon concluiu que de 36% de áreas supostamente privadas, apenas 4% têm títulos indiscutíveis. Outros 43% são áreas protegidas e 21% são áreas supostamente públicas. A palavra “supostamente” aparece em mais da metade das terras da Amazônia. Sem clara definição da posse das terras e das regras associadas aos direitos de propriedade, resta a exploração predatória, descompromissada.

5 – CAUSAS DO DESMATAMENTO
Os vilões tradicionais do desmatamento na região são: a soja, o gado, o frango, os madeireiros e até os índios. Na verdade, ele decorre de vários elementos sociais, políticos e econômicos que determinam que o valor da terra nua seja superior ao da floresta em pé. Calcula-se que 80% da madeira consumida no país seja de procedência predatória ou ilegal. Houve época (na década de 70) em que desmatar significava limpar, conquistar, desenvolver. O desmatamento também está associado ao consumo de madeira como energia. Cerca de 70% da madeira brasileira é usada na produção de carvão vegetal (para a produção de ferro-gusa) e uso doméstico. O desmatamento também está relacionado à busca de uma alternativa econômica para o uso da terra. Sem uma política florestal, a terra nua ou com finalidade agropastoril gera mais renda. Leonardo da Vinci, no século 16, já apontava que as florestas devem ir além da madeira, ressaltando o valor de suas frutas, sementes, fibras, seus extratos, óleos e perfumes.

6 – CONHECIMENTO HÁ DISPONÍVEL
Recentemente, a polêmica sobre os índices de desflorestamento trouxe a público a qualidade científica do conhecimento gerado pelo Imazon, no que tange à análise de imagens de satélite. Este instituto foi criado em Belém e, em 18 anos, publicou mais de 200 trabalhos técnicos, boa parte veiculada em revistas científicas internacionais ou publicada como capítulos de livros. O Greenpeace produziu um extenso documento investigativo sobre a produção e o consumo de madeira ilegal. Eu completaria a lista, citando a Embrapa, o Museu Emílio Goeldi, o INPA, o INPE, as Universidades locais, outros órgãos de pesquisa regionais e até organismos internacionais. A ausência de uma solução para a região certamente não acontecerá por falta de informação.

7 – A FLORESTA PODE SER PRODUTIVA
A política florestal deveria contemplar a eliminação do mercado informal de madeira. Ele deve ser substituído pela certificação, pela adição de valor para produtos florestais e pela formulação de regras simples e claras para a comercialização de serviços ambientais. Sementes, frutos, óleos e extratos, se colhidos e armazenados adequadamente, podem depois ser transformados em matérias-primas para mercados sofisticados, como o de cosméticos ou de alimentos. Eu acrescentaria o turismo ecológico, o arvorismo, a observação de pássaros (birdwatching), a pesca turística e outras atividades que envolvam a floresta, de forma sustentável, como o açaí, o dendê e o babaçu.

8 – A EDUCAÇÃO É CRÍTICA
Os indicadores de educação da Amazônia são muito ruins se comparados com o restante do Brasil. Os moradores com mais de 25 anos têm 5,9 anos de estudo, ante 6,5 na média brasileira. Enquanto nas regiões Sul e Sudeste o percentual de jovens entre 20 e 24 anos matriculados nas universidades é de 16 e 15% respectivamente, na região Norte essa taxa não chega a 7%. Assim, tecnologias sofisticadas não são implementadas por falta de mão-de-obra, e o empreendedorismo não se desenvolve. Um bom conjunto de programas de capacitação em tecnologia florestal tropical e madeireira poderia ter reflexo rápido na capacidade brasileira de adicionar valor aos produtos florestais. Um bom programa de fomento de pesquisa da biodiversidade e suas aplicações poderia ser estruturado, sem a necessidade de criação de nenhum novo centro ou de obras civis.

Eu acrescentaria: o desestímulo de carreiras como a Engenharia e Direito, em prol de outras como a Farmacologia, Engenharia Florestal, Piscicultura e Geologia.

9 – LÁ NÃO É LUGAR PRA CULTURAS AGRÍCOLAS
Fala-se que a expansão do agronegócio ameaça a Amazônia. Programas de reflorestamento podem ser implementados como alternativa para a produção de carvão vegetal. A consolidação de uma economia florestal tropical que garanta a preservação da floresta amazônica, deveria integrar-se ao potencial nacional na produção de commodities. Para isso, é preciso integrar a política ambiental à agroindustrial, revisitando-se as regulamentações referentes ao uso da terra. Adendo meu: o solo ruim (78% são muito ácidos e de baixa fertilidade) e as chuvas intensas (em apenas 15 minutos de chuva, 36 litros de água por metro quadrado), em geral, não aconselham políticas agrícolas em grandes áreas. Tirando as atividades agroflorestais e o plantio de frutas exóticas e do dendê para biodíesel, o potencial da região é o turismo e a piscicultura.

10 – OUTRA IMAGEM PARA A AMAZÔNIA
A imagem do Brasil tem sido castigada pelo desmatamento. Com fotos de crianças seminuas e casebres sem paredes, pedimos ajuda a ONGs, bancos e empresas internacionais. “Paguem pela floresta em pé, ou derrubamos tudo!”, é o que parecem dizer nossos especialistas em comércio internacional. A impressão que dá é que estamos consolidando nossa posição como pobres pedintes, chantagistas ou desmatadores envergonhados. O discurso nacional sobre a Amazônia e o meio ambiente poderia passar de defensivo a proativo. Poderíamos mostrar que o país tem condições de garantir sua posição com base na construção de um novo modelo que combine a produção de alimentos em grande escala, uma matriz energética limpa e uma agenda ambiental florestal sólida e sustentável. Não há nenhum impedimento estrutural para que o Brasil assuma essa posição.

OUTROS DADOS:
(garimpados por mim na Internet)
> maior biodiversidade do planeta (cerca de 30% de todas as espécies)
> maior floresta tropical do mundo (3.300.000 km2)
> maior rio do mundo (6.671 km, 91 a mais que o Nilo)
> ocupa cerca de 60% do Brasil (5 milhões de km2)
> abriga cerca de 10% da população brasileira
> produz cerca de 7% do PIB nacional
> vocação: florestal e aquática
> densidade: 2 hab/ km2

Autoria: José Luiz Viana do Couto
e-mail: jviana@openlink.com.br

Tilápias em tanques-rede

(www.sebrae.com.br>Setores>Aquicultura e Pesca>Criação de tilápias em tanques-rede)

Nos próximos 50 anos, a criação de peixes pode nos transformar de caçadores e coletores marinhos em pecuaristas aquícolas. Exatamente como há mais ou menos 10.000 anos atrás, uma inovação semelhante transformou nossos ancestrais, de caçadores e extrativistas, em agricultores e pastores.
(Drucker, 2000)


Comparando a produção de peixe com outras carnes tradicionais no Brasil:
CARNE / CONSUMO / TEMPO (para produzir em escala comercial)
Frango -> 40 kg/hab.ano -> 2 meses
Boi -> 30 kg/hab.ano -> 30 meses
Peixe -> 7 kg/hab.ano -> 6 meses (tilápia)

Os peixes mais importantes na criação em cativeiro, no Brasil, são: a tilápia (38% da produção), carpa (24%) e tambaqui (14% do total). As exigências ambientais para o cultivo de TILÁPIA são: temperatura da água entre 20 e 30oC, oxigênio dissolvido > 4 mg/L e profundidade > 1,5 m. Alguns atrativos e características da espécie (Oreochromis niloticus ou tilápia do Nilo):
> Baixo teor de gordura = 0,9g/100g de carne;
> Baixo teor de calorias = 172 kCal/100g de carne;
> Rendimento em filé = 33 a 37%; e
> Peso médio por indivíduo adulto = 600g

As VANTAGENS do tanque-rede sobre outros sistemas de criação são: menor custo que nos viveiros; facilidade e rapidez na montagem, expansão, monitoramento e despesca; maior proteção contra predadores naturais; e uso de lagos e barragens já construídos. DESVANTAGENS: menor possibilidade de correção de parâmetros químicos e físicos da água; e regime alimentar pode ser feito apenas com ração. Aliás, esta, representa cerca de 65 a 75% dos custos de produção.

Mas, afinal, o que vem a ser um tanque-rede ? É um sistema de produção intensivo onde os peixes são confinados em altas densidades, numa gaiola com malhas que permitem uma grande troca de água com o ambiente e no interior da qual os animais recebem ração balanceada.

DETALHES DO TANQUE-REDE
Formatos mais comuns: círculo, quadrado e retângulo. Quadrado=2m x 2m.
Volume útil de cada um: 4 a 6m3.
Comedouros: 1 a 1,3m de diâmetro e 0,7m de altura (no centro do tanque).
Altura do tanque: 1,20m (1m submerso) a 1,8m (1,5m submerso).
Diâmetro das malhas: 5mm para alevinos e 8mm para peixe adulto.
Distância entre tanques: 1 a 2 vezes o comprimento (ou diâmetro).
Peso: 150 a 200kg/m3.
Densidade: 500 peixes/m3 no tanque de engorda até 200g/peixe e metade desse valor na 2ª. e última fase da criação, quando o peixe alcança 600g.
Produção: 600 a 900 kg/tanque de 4m3 (nas grandes barragens).
Outros acessórios: 4 flutuadores (tambores ou tubos de PVC fechados nas extremidades); cabo de ancoragem (de nylon com 12 a 14mm de diâmetro ou de aço); linha mestra, para alinhar os tanques-rede; bóia cega de 200 L nas extremidades da linha mestra; bandeirolas de localização; e outros.

FASES DA CRIAÇÃO
1ª.: alevinos (1g/peixe), 60 dias, até completar 200 a 300g/peixe; e
2ª.: engorda, 120 dias, até atingir 600 a 850g/peixe.

LICENÇAS AMBIENTAIS
(para implantação do empreendimento)
a) Licença Prévia ou LP, válida por 5 anos;
b) Licença de Instalação ou LI, válida por 6 anos; e
c) Licença de Operação ou LO, válida por 4 a 10 anos.

Em 1990 o Brasil produziu pouco mais de 16.000 t de peixes cultivados e, em 2005, a produção nacional foi de 178.746 t, um crescimento de 1.017% (IBAMA, 2005). Segundo a FAO (dados de 2002), no mundo, foram produzidas 39 milhões de toneladas de peixes (a China é o maior produtor), quando o Brasil, com suas 251.000 t, colaborou com apenas 0,64% do total mundial. Entretanto, segundo o mesmo órgão, temos capacidade para produzir até 10 milhões de toneladas, em 2030. Depende de você acreditar e TRABALHAR.
NOTA. Este texto teve 4 objetivos:
1 – Mostrar que a internete (no caso, o site do Sebrae) é uma fonte riquíssima de informações técnicas;
2 – Alertar contra a poluição dos possíveis locais de instalação (açudes, reservatórios e represas) dos tanques-rede;
3 – Lembrar que a própria atividade de aqüicultura, nesta modalidade, também provoca poluição (em menor escala); e
4 – Fornecer elementos para incentivar a produção de tilápia em cativeiro, uma proteína exportável de grande aceitação (nos EUA, p.ex.).

Autoria: José Luiz Viana do Couto
e-mail: jviana@openlink.com.br

Trabalho premiado

(Índice de Salubridade Ambiental em Áreas de Ocupação Espontâneas: um Estudo em Salvador – BA, Marion C.Dias e aux., Rev. Engenharia Sanitária e Ambiental, ABES, v.9, n.1, jan/mar2004, 23º.Congresso ABES, Santa Catarina, 2003).
http://www.abes-dn.org.br/publicações/en
genharia/resaonline/v9n1/v9n1t01.pdf
Prêmio “Saúde Pública e Ambiente”.

JUSTIFICATIVA
A carência ou precariedade dos serviços de saneamento ambiental (água, esgoto, lixo, drenagem e outros) tem sido uma das causas principais da degradação ambiental. Observa-se que um dos maiores problemas das favelas (chamadas no trabalho de “áreas de ocupação espontâneas”) é a falta de salubridade, conseqüência direta da falta de serviços de infra-estrutura sanitária. A salubridade ambiental é o produto das condições materiais e sociais que caracterizam o estado do meio ambiente, no qual as pessoas vivem e que interferem na saúde da população. Há quem inclua a variável cultural como necessária ao estudo do ambiente.

E por falar em favela, é bom lembrar que a moradia que não dispõe de serviços de saneamento ambiental, além de representar riscos à saúde humana, torna-se fator de degradação do meio ambiente.

Existe uma variedade de índices ambientais relacionados às condições de vida como, p.ex., o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, ICV – Índice de Condições de Vida, Indicadores Básicos de Saúde e outros. Aqui mesmo no ABC, já escrevi sobre alguns, como:
a) IDH Ambiental, 25/03/07;
b) IDM – Índice de Desenvolvimento Municipal, 27/03/07;
c) IQM – Índice de Qualidade dos Municípios, 29/03/07; e
d) Modelo de Priorização de Investimentos em Saneamento, 25/01/08.
Este agora (ISA/OE – Índice de Salubridade Ambiental em Áreas de Ocupação Espontâneas) pode e deve ser usado pelo Poder Público e a sociedade, na definição de políticas para essas áreas.

COMO MONTAR O ÍNDICE
O ISA/OE pode ser elaborado com base em dados secundários (reunidos em levantamentos anteriores) e, caso necessário, complementados com a aplicação de questionários nas residências. Assim foi feito no caso de Salvador-BA.

Inicialmente foram selecionados sete componentes do ISA/OE, que receberam os seguintes pesos, pela sua importância relativa:
1) Abastecimento d´água, IAA, p1=0,20;
2) Esgotamento Sanitário, IES, p2=0,20;
3) Resíduos Sólidos, IRS, p3=0,15;
4) Drenagem Urbana, IDU, p4=0,10;
5) Condições de Moradia, ICM, p5=0,15;
6) Sócio-econômico e Cultural, ISE, p6=0,10; e
7) Saúde Ambiental, ISA, p7=0,10.
Como pode ser observado, a soma dos componentes é igual à unidade.

Cada componente é caracterizado por variáveis ambientais relacionadas às condições físicas, econômicas, sociais e culturais do domicílio e de seus ocupantes, segundo a relação abaixo:

1 - ABASTECIMENTO D´ÁGUA
> Atendido com rede pública (%)
> Onde nunca ou raramente falta água (%)
> Consumo médio de água (l/hab.d)
> Amostra de água sem coliformes fecais (%)

2 – ESGOTAMENTO SANITÁRIO
> Destino adequado de dejetos sanitários (%)
> Destino adequado de águas servidas (%)

3 – RESÍDUOS SÓLIDOS
> Com coleta regular de resíduos sólidos (%)
> Com resíduos sólidos de responsabilidade da LIMPURB (%)

4 – DRENAGEM URBANA
> Sem ocorrência de inundação ou alagamento (%)
> Em ruas que possuem pavimentação (%)

5 – CONDIÇÕES DE MORADIA
> Com paredes de reboco (%)
> Com piso adequado (%)
> Com cobertura adequada (%)
> Possuem sanitário (%)
> Com caracterização interna completa (%)
> Guarda água em reservatórios com tampa (%)
> Amostra de água sem coliformes fecais (%)

6 – SÓCIO-ECONÔMICO E CULTURAL
> Domicílios próprios pagos ou financiados (%)
> Renda média mensal familiar (salário-mínimo)(%)
> Número médio de habitantes por cômodo (unidade)
> Com acondicionamento adequado de resíduos sólidos (%)
> Cozinha utilizada apenas para preparar alimentos (%)
> Não possuem animais (%)
> Possuem lavatório (%)
> Cabeça da família tem pelo menos 1o. grau completo (%)
> Morador reside a 5 ou mais anos, méd.cab.fam. (%)
> Dão tratamento doméstico à água (%)

7 – SAÚDE AMBIENTAL
> Sem resíduos nas proximidades – dist.=10m (%)
> Não apresentaram aumento de vetores (%)

Após a seleção das variáveis, foram determinados os percentuais de ocorrência de cada uma delas. Depois os indicadores foram homogeneizados por meio de interpolação linear. Com a obtenção dos indicadores, efetuou-se o cálculo dos índices parciais para cada componente, por meio de média aritmética do seu conjunto de indicadores. De posse dos índices, por meio da média ponderada, calculou-se o ISA/OE de cada área de ocupação espontânea. Os indicadores, componentes e o ISA/OE variam na escala de zero a 100 pontos.

Propôs-se seguinte formulação para o Índice de Salubridade Ambiental:

ISA/OE = Iaa.0,2+Ies.0,2+Irs.0,15+Idu.0,1+Icm.0,15+Ise.0,1+Isa.0,1

Uma vez somados os pontos obtidos por cada comunidade nos 7 componentes ambientais, o seu enquadramento da situação é feita segundo a Tabela abaixo:

SALUBRIDADE POR FAIXA
Insalubre = 0 a 25 pontos
Baixa salubridade = 26 a 50 pts.
Média salubridade = 51 a 75 pts.
Salubre = 76 a 100 pts.

Os cálculos ficam facilitados com o uso de uma Planilha Excel, como a que fiz com as 3 primeiras comunidades mostradas no trabalho original.

Que tal você tentar replicar esse exemplo nas comunidades de baixa renda que existem no seu Município ? A Natureza agradece...

Autoria: José Luiz Viana do Couto
e-mail: jviana@openlink.com.br

Peixe e poluição

Semana passada o Presidente Lula transformou a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca – SEAP em Ministério da Pesca. Deixarei de lado a polêmica criada com os novos cargos e, como Agrônomo e Sanitarista, abordarei apenas os aspectos relativos à produção de alimentos e à poluição.

Os peixes são a proteína mais barata e de melhor qualidade que pode ser produzida atualmente. Embora tenhamos 8.500 km de costa, 12% da água doce do mundo, 2 milhões de hectares de terras alagadas, grandes reservatórios e açudes, consumimos apenas 7kg/hab.ano de peixe, contra os 12kg recomendados pela OMS e a média mundial de 16kg.

Sabemos que a quase totalidade dos nossos rios são verdadeiras valas de esgoto bruto. A primeira conseqüência é a mortandade de peixes e, os que sobrevivem, adoecem e transmitem doenças a quem os consome.

A Resolução CONAMA 20, de 18/06/86, classifica as águas de acordo com sua utilização. Para cada classe, existe um critério técnico que determina quando a mesma é considerada poluída, estabelecendo uma quantidade mínima de poluentes que podem estar presentes. Por sua vez, a Vigilância Sanitária exige que cada grama de alimento não contenha mais do que 100 NMP (Número Mais Provável) de coliformes fecais.

A poluição afeta a morfologia do zooplâncton, fauna microscópica que compõe boa parte da dieta dos peixes menores, que sofrem com a escassez de alimentos e podem contaminar-se. Rubens Lopes, um dos responsáveis pelo estudo de zooplâncton no estuário e na baia de Santos, encontrou a bactéria Vibrio cholerae (causadora da cólera) em boa parte das espécies que examinou. Segundo Rubens, o mar é o ambiente natural da bactéria, mas a poluição orgânica torna a baía especialmente propícia para a sua multiplicação.

Os poluentes em peixes
Praticamente todo peixe que vive em ambiente natural contem traços de metilmercúrio. O mercúrio se acumula nos peixes quando a água poluída é filtrada através de suas guelras. Quanto mais o peixe vive, mais mercúrio se acumula.
Ao comerem peixes menores, retêm o mercúrio dos mesmos. Do mesmo modo, nossos tecidos acumulam o mercúrio dos peixes que comemos durante toda a nossa vida. O mercúrio é venenoso para o cérebro, o sistema nervoso; causa hipertensão, doença cardíaca, desordem mental e doenças endócrinas.

Assim como o mercúrio, outros poluentes, incluindo os PCBs, se acumulam nos peixes e nos tecidos humanos de quem come peixe regularmente. Eles podem permanecer no corpo por décadas, aumentando o risco de doenças como o câncer.

Quase todo o oceano já foi danificado de alguma maneira pela ação do homem e pelo menos 41% de suas águas foram seriamente afetadas. Os oceanos estão se tornando cada vez mais ácidos, devido à absorção de dióxido de carbono em excesso, e as plantas estão sendo afetadas pelo aumento da radiação ultravioleta.

Enquanto a pesca de subsistência (há 4 tipos de pesca: subsistência, comercial, esportiva e científica) tem um impacto limitado na ecologia marítima, a pesca comercial representa um alto impacto e joga toneladas de peixes, aves e mamíferos mortos no mar, e isso ameaça a extinção de várias espécies de tartarugas, aves, baleias e golfinhos.

Outros vilões da produção de pescado, no Brasil, são:
1 – esgotos (domésticos e industriais);
2 – agrotóxicos e dejetos de animais;
3 – chorume do lixo;
4 – derramamento de óleo;
5 – sobrepesca;
6 – tráfego de barcos;
7 – aterro de manguezais; e
8 – assoreamento e turbidez.

Não bastasse, ainda tem gente que adora comer sushi com peixe de origem desconhecida. À propósito: minha comida predileta é peixe (frito).

Autoria: José Luiz Viana do Couto
e-mail: jviana@openlink.com.br

Uso de algas como indicadoras

Na minha página de recados do dia 11/07/08 o amigo Júlio César dá a chave do cofre para a leitura do seu excelente trabalho de Mestrado: Diatomáceas (Ochrophyta) Epilíticas do rio Negro, Paraná: Estrutura da comunidade antes e após um derramamento de óleo diesel e vegetal. (UFPR, 77p., 2007). Como eu ainda não tinha abordado esse tema no ABC, pedi licença ao Júlio para resumi-lo.

Você deve saber que há décadas alguns organismos (peixes, invertebrados aquáticos, fito e zooplâncton, moluscos bivalves e outros) são utilizados no monitoramento da degradação ambiental dos mananciais hídricos. Cada qual tem as suas vantagens e desvantagens em relação aos demais. As diatomáceas são utilizadas amplamente como bioindicadoras de níveis tróficos e de sapróbia no mundo inteiro, sendo este trabalho, pioneiro no estudo da resposta desta comunidade à presença de óleo diesel e vegetal em sistema lótico de água doce.

DIATOMÁCEAS PERIFÍTICAS
As algas pertencem à uma família de plantas primitivas (a maioria formada por uma única célula), sem folhas, caules ou raízes; quase sempre têm clorofila e vivem em ambiente aquático.

Perifiton = complexa comunidade de microrganismos (fungos, algas, bactérias, etc.) que, juntamente com partículas orgânicas e inorgânicas, encontra-se aderido (firme ou frouxamente) a um substrato submerso. A comunidade perifítica serve de alimento e refúgio para invertebrados e pequenos peixes, além de ser importante fonte de energia e contribuir para a reciclagem de nutrientes. A relativa falta de mobilidade das algas perifíticas, resulta em respostas imediatas às alterações físicas e químicas no ecossistema, determinando uma modificação numérica e associativa das espécies que ali se desenvolvem. O hábito normalmente séssil, associado ao curto ciclo de vida das espécies de algas que compõem o perifiton, resulta em respostas imediatas às alterações ambientais, funcionando como indicadoras confiáveis da qualidade da água e de seu estado trófico.

Neste estudo foi escolhido o epilíton, ou seja o perifíton que habita seixos e rochas, pois são substratos naturais e abundantes na maioria dos rios no mundo.

AMOSTRAGEM
No trabalho inédito desenvolvido por Júlio César Costin no rio Negro, estado do Paraná, foram usados para obter amostras da comunidade de diatomáceas perifíticas, seixos com diâmetro médio entre 8 e 10 cm, retirados do eixo da calha do rio, em profundidade mínima de 30 cm, totalizando 12 substratos naturais. Uma amostragem foi realizada antes ao derramamento de óleo diesel e vegetal, e três depois. As amostras de epiliton foram removidas da superfície (parte superior) dos seixos exposta à luz, através da raspagem manual com escovas de nylon. Posteriormente foram confeccionadas lâminas, observadas em microscópio óptico em mil aumentos (1000x), já que as algas medem entre 2 à 300 micrômetros (milionésima parte do metro), tendo sido fotografadas com câmera digital (fotos em Anexo no trabalho).

ESPÉCIES INDICADORAS
As ornamentações na frústula de sílica que formam a parede celular são utilizadas para a identificação das diatomáceas. Trocando em miúdos: cada alga se parece com um grão de arroz ou com uma folha de eucalipto; e o número e disposição das suas “nervuras” é que diferenciam uma espécie da outra. Assim, foram identificadas as espécies consideradas abundantes, ou seja, aquelas que caracterizam cada amostragem, que representam no mínimo 80% do total de indivíduos identificados e computados.

CONCLUSÕES
1) Evidenciaram-se alterações na composição e abundância relativa das diatomáceas epilíticas considerando-se a fase pré e pós-derramamento.
2) Houve diminuição na riqueza de espécies após o derramamento de óleo; constatou-se que cerca de 40 % do total dos táxons encontrados na amostragem pré-derramamento, não foram mais constatadas nas amostragens pós-derramamento.
3) Do total das espécies encontradas na coleta anterior ao derramamento, 65,8% não foram encontradas um mês após o aporte de ambos os óleos.
4) As diatomáceas epilíticas responderam de forma diferenciada ao derramamento de óleo diesel e vegetal. Houve aumento da densidade de algumas espécies, diminuição de outras e algumas desapareceram ao longo do período do estudo.
5) Houve grande diminuição na riqueza e diversidade da taxocenose de diatomáceas epilíticas do rio Negro, por tanto esta biocenose pode ser utilizada como bioindicadora em derramamentos de óleo diesel ou vegetal.

Autoria: José Luiz Viana do Couto
e-mail: jviana@openlink.com.br


Agroenergia - A bola da vez

Ouvi na Voz do Brasil de 12/06/08 uma informação do Ministério de Minas e Energia – MME, dando conta que universidades brasileiras pesquisam baterias solares para serem utilizadas em locais remotos do país e que, também, estão sendo testadas pequenas turbinas hidráulicas para, em pequenos riachos, gerarem energia elétrica para até 150 famílias ou 750 pessoas, através de pequenas centrais hidrelétricas – PCH. Essa notícia atiçou a minha curiosidade e fui até o site do MME procurar dados mais concretos. Confesso que não achei mas, no menu Programas > Agroenergia, achei o arquivo Diretrizes de Política de Agroenergia, de 6/11/05, que passo a reproduzir, em parte.

O QUE É AGROENERGIA ?
Agroenergia é o nome genérico de atividades rurais destinadas primordialmente à produção de energia, seja térmica ou elétrica. São elas:
1 – Álcool (etanol da cana-de-açúcar)
2 – Biodíesel (produto derivados de oleaginosas e gordura animal)
3 – Florestas energéticas (plantações comerciais de eucalipto para carvão)
4 – Resíduos agroflorestais (utilização da biomassa vegetal e fezes de animais)

O etanol é um aditivo ou substituto para a gasolina (a participação dos veículos “flex-fuel” já representam 70% das vendas de automóveis novos no País). O biodíesel é um substituto para o óleo diesel mineral proveniente do petróleo, cuja demanda é de cerca de 840.000 litros por ano para a mistura de 20% ou o chamado B2. As florestas energéticas cultivadas (plantações de eucalipto para produção de carvão vegetal) destinam-se prioritariamente à fabricação do ferro gusa nas siderúrgicas brasileiras (cerca de 86% do total, em 2000) e apresentam a perspectiva de uso dos mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL) para premiar a produção do chamado “aço verde”.

Quanto aos resíduos agroflorestais, o potencial de utilização também é grande, já que a participação da biomassa na matriz energética nacional está situada em 29% (é de apenas 11% em nível mundial) e tende a subir com o uso crescente do bagaço de cana-de-açúcar como fonte de energia nas novas termelétricas do País.

VANTAGENS
O Brasil é o país que reúne o maior quantitativo de vantagens comparativas para liderar a agricultura de energia: possui terra, mão-de-obra e tecnologia. Além de permitir que o País se lance como um fornecedor regular de combustíveis renováveis, também pode permitir a maior participação no mercado de créditos de carbono. Principalmente no caso do biodíesel, há uma vantagem adicional: o seu Programa prevê que boa parte da matéria prima seja fornecida pela Agricultura Familiar, que é a responsável pela geração de 70% dos empregos na zona rural. A autonomia energética comunitária é outro “milagre” que se espera da Agroenergia. Ou seja, a energia passará a ser um componente do custo de produção agropecuário e da agroindústria, tornando progressivamente atraente a geração de energia dentro da propriedade rural. E um dos maiores sonhos dos urbanistas é que a boa situação no campo, se não puder inverter o sentido do fluxo migratório para as cidades, pelo menos não continue a gerar favelas. Lembra do comentário sobre a ODM número 7 do meu texto que antecede a este ?

1) ETANOL
Empregado na indústria química, na fabricação de bebidas e como carburante, é hoje a principal bioenergia utilizada no mundo. Entre 2000 e 2004, sua produção mundial cresceu 47%, atingindo 41 bilhões de litros, dos quais quase 73% foram usados como combustível. Os maiores produtores e consumidores do etanol são o Brasil e Estados Unidos. Juntos, foram responsáveis por quase 70% da produção e do consumo mundial em 2004, seguidos pela China (9%), União Européia (5%) e Índia (4%), que utilizam o biocombustível misturado à gasolina em diferentes percentuais.

Só o Brasil, consumiu 12 bilhões de litros em 2004. Atualmente, são 70.000 agricultores em todo o Brasil e 393 usinas, distribuídas principalmente nas regiões Centro-Sul (responsável por 92% da produção de etanol) e N-NE (com os 8% restantes). São Paulo é disparado o maior produtor.

No entanto, a maior riqueza em sacarose na cana-de-açúcar e a possibilidade de se aproveitar o seu bagaço e sua palha para co-gerar energia (queima em caldeiras), que será consumida no processo produtivo do álcool, torna essa matéria-prima preferencial em termos produtivos (produtividade e custos), quando comparada com as demais.

O benefício ambiental associado ao uso do etanol é considerável, pois cerca de 2,3t de CO2 deixam de ser emitidos para cada tonelada de álcool combustível utilizado, sem considerar outras emissões, como o SO2. Ou seja, o uso do álcool reduz em 50% a emissão de monóxido de carbono dos motores de veículos, pois contém 35% de oxigênio, o que auxilia na combustão dos produtos derivados do petróleo. Além dessas características, é solúvel na água, não tóxico e biodegradável.

Mercados do etanol: 1 – combustível; 2 – uso industrial; e 3 – fabricação de bebidas.

2) BIODÍESEL
No caso do biodíesel, as principais produções e consumos estão na União Européia (principalmente na Alemanha, França e Itália), que fornece subsídios para incentivar as plantações de matérias-primas agrícolas em áreas não exploradas, mais isenção de 90% nos impostos.

As vantagens comparativas do Brasil são: a) a variedade de plantas oleaginosas capazes de gerar biodíesel (mais de 20); b) a extensão de terras disponíveis (cerca de 50 milhões de hectares de pastagens degradadas e/ou subutilizadas); c) mão de obra para a produção (Agricultura Familiar e grandes produtores); d) tecnologia e e) mercado.

3) FLORESTAS ENERGÉTICAS CULTIVADAS
Estima-se existirem no Brasil cerca de 3 milhões de hectares de eucalipto, destinados primariamente à produção de carvão vegetal. De acordo com a FAO, a área brasileira de florestas nativas é de aproximadamente 5,3 milhões de km2, ou cerca de dois terços da área do país, sendo a 2a. maior do mundo, após a Federação Russa.

As variações no consumo de energia da madeira (sob a forma de lenha bruta e resíduos), estão associadas ao grau de desenvolvimento do país. Seu uso é especialmente comum em áreas rurais dos países em desenvolvimento, sendo responsável pela quase totalidade da energia consumida no lar (fogão à lenha). Via de regra, o seu consumo é local, ou seja, colhido nas redondezas. Já o carvão vegetal (proveniente das florestas energéticas cultivadas, em geral de eucaliptos, e após queimados em fornos rústicos de barro) é mais consumido nas áreas urbanas e suburbanas, demandando cerca de 6 m3 de madeira verde para a produção de uma tonelada de carvão vegetal. Assim, incorrem custos de transporte, tanto da matéria-prima quanto do carvão, de processamento e de estocagem.

4) RESÍDUOS AGROFLORESTAIS
Esses resíduos são de 3 naturezas:
a) biomassa vegetal = restos de colheita, palha de arroz e outros;
b) subprodutos da agroindústria = bagaço de cana, vinhaça, etc.; e
c) fezes de animais = suínos, bovinos e aves.
Em alguns casos, podem ser utilizados pelo produtor rural ou agroindústria para a queima direta, visando a produção de calor. Em outros, como no caso das fezes de animais, a melhor alternativa é a produção de biogás em biodigestores. Entretanto, a principal forma de aproveitamento desses resíduos, ainda é a sua queima para a produção de vapor. O setor rural é, assim, o maior consumidor de biomassa para energia. Estima-se que o consumo per cápita atual seja de uma tonelada por ano, ou aprox. 15 giga-Joules (GJ), enquanto nas áreas urbanas este valor cai para 50%.

ETANOL DO LIXO

(Empresa britânica anuncia etanol 'feito de lixo')

Uma empresa britânica anunciou nesta segunda-feira (21/7) ter tecnologia para começar a produzir etanol a partir de lixo biodegradável em escala industrial dentro de dois anos. A Química Ineos Bio afirma que será possível usar lixo biodegradável municipal, lixo orgânico comercial e resíduos de agricultura, entre outros, para a produção do combustível. Segundo a empresa, a tecnologia já foi testada em um projeto piloto nos Estados Unidos. "Planejamos produzir quantidades comerciais de combustível de bioetanol de lixo para ser usado como combustível para carros dentro de dois anos", afirmou Peter Williams, diretor executivo da Ineos Bio.

A empresa alega que esta tecnologia tem a vantagem de não afetar a produção de alimentos. Uma tonelada de lixo seco pode ser transformada em cerca de 400 litros de etanol, informou a empresa.

"O fato de termos conseguido separar a segunda geração de biocombustíveis dos alimentos é um grande passo. Esperamos que a tecnologia garanta combustíveis renováveis e sustentáveis a um custo competitivo", disse Williams.

A empresa, no entanto, precisará da cooperação dos governos locais para ter acesso ao lixo.

COMO FAZER
A transformação se opera em três estágios. Primeiro, o lixo é superaquecido para a obtenção de gás. Em seguida, este gás é usado para alimentar bactérias anaeróbicas (biocatalizadoras) que produzem o etanol. No estágio final, o etanol é purificado para ser usado como combustível puro ou misturado à gasolina.

A Ineos ainda não anunciou a localização da primeira usina comercial de produção do etanol do lixo.

O INÍCIO
O processo foi desenvolvido em Fayetteville, no Estado americano do Arkansas. As pesquisas começaram em 1989 e a primeira usina foi montada depois de 20 anos de trabalho.

A fábrica está operando continuamente desde 2003, usando diferentes dejetos.

Fonte: Página de Ambiente Brasil e o Estadão Online, 22/07/08

A TACADA FINAL

Para não prolongar muito este capítulo do ABC, que chamei de “Agroenergia: a bola da vez”, vou empurrar para a caçapa a bola verde do etanol, com o resumo do artigo OCDE defende etanol do Brasil e critica EU e EUA (O Globo, Economia, 17/07/08, p.29).

O 1o. estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE isenta o etanol brasileiro dos principais ataques e condena os biocombustíveis americano, europeu e canadense. Enquanto esses países (ditos de 1o. mundo) subsidiam a beterraba, trigo e óleos vegetais (cujo etanol e biodíesel reduzem de 30 a 60% as emissões de gases poluentes), o etanol da cana-de –açúcar tupiniquim reduz as emissões em 80%. Diante disso, os preços do trigo, arroz e óleos vegetais aumentarão até 13% de 2013 a 2017. Já o do açúcar brasileiro será pouco afetado a médio prazo.

A OCDE defende “moratória” sobre biocombustíveis e revisão das políticas atuais, alegando que têm benefício ambiental duvidoso.

EUA, União Européia e Canadá gastaram US$ 11 bilhões em 2006 com subsídios, que deverão atingir US$ 25 bilhões de 2013 a 2017. O Brasil, segundo o estudo, reduziu (o grifo é nosso) seus incentivos fiscais ao etanol.

Autoria: José Luiz Viana do Couto e-mail: jviana@openlink.com.br