Projeto de Pesquisa “Valoração da Água e Instituições Sociais:
Subsídios para a Gestão de Bacias Hidrográficas na Baixada Fluminense, RJ”
(apoiado pelo CNPq/CT-Hidro)
Reunião Aberta entre Moradores, Lideranças e Pesquisadores
Duque de Caxias, 24 de oututro de 2009
Inicialmente, foi esclarecido que o propósito da pesquisa em andamento é estudar a evolução de questões ligadas ao uso e à conservação da água na Baixada Fluminense (incluindo a análise de planos governamentais, projetos de investimento e soluções independentes adotadas por comunidades locais) e as diferents percepções e manifestações do valor da água (valor produtivo, valor cultural e religioso, valor de uso doméstico, etc.). Foi relatado que a pesquisa teve início em 2008 com diversas atividades voltadas à coleta de dados, especialmente entrevistas (44 foram realizadas até o momento), análise de dados socioambientais, exame de documentos oficiais e participação em eventos públicos. As analises preliminares dos resultados, as quais foram já objeto de publicações e apresentações em conferências, levaram a algumas conclusões gerais:
1) as falhas da gestão de recursos hídricos na Baixada Fluminense têm representado uma constante fonte de problemas para os moradores locais na forma de enchentes, poluição e serviços públicos deficientes; tal situação tem atraído diversas iniciativas governamentais, mas sem que se tenha avançado significativamente na resolução efetiva dos problemas;
2) apesar de mudanças discursivas e nas práticas gerenciais, as intervenções do poder público, em seus diversos níveis de responsabilidade, em grande medida reproduzem um tratamento tecnocrático e hierarquizado quanto à compreensão dos problemas e formulação de alternativas;
3) a problemática dos recursos hídricos se confunde com a evolução histórica do espaço geográfico da Baixada Fluminense, o qual é profundamente marcado por desigualdades internas (entre grupos e localidades) e externas (em relação a outras áreas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro); e
Após esse breve apresentação das conclusões iniciais da pesquisa, passou-se a um debate aberto e sem uma estrutura rígida.
1) Manifestações que destacaram as falhas e distorções dos vários projetos do governo estadual (incluindo ações desde a década de 1980), as ineficiências do serviço público de água e saneamento e as limitadas respostas atualmente oferecidas pelos projetos do PAC.
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Diversos participantes desta reunião colaboraram durante a primeira fase através de entrevistas e informações, sendo que por essa razão foram convidados a assistir à presente reunião para discutir os resultados e conclusões da análise.
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A metodologia utilizada foi semelhante a um ‘grupo focal’ onde cada orador argumentava sobre os resultados da pesquisa (apresentados inicialmente) e sobre as falas de outros participantes, com alguma discreta moderação por parte do coordenador. O propósito foi permitir uma conversação crítica e sem qualquer restrição. A reunião foi gravada e totaliza quase quatro horas de debates.
2) Um segundo grande grupo de manifestações (adotado pela maioria dos participantes, ainda que nem todos desse segundo grupo discorde da importância da dimensão política e governamental) ressaltou diversos aspectos da falta de consciência da população local em relação à sua responsabilidade no que diz respeito à conservação dos cursos de água. Para esse segundo grupo, o problema mais grave está relacionado à qualidade do ambiente urbano e à conservação ambiental. Numerosos exemplos de um comportamento individualista e irresponsável foram trazidos ao debate. Destacou-se a dificuldade de alguns moradores, particularmente os mais jovens, de estabelecer uma identidade cultural e conexão pessoal com o contexto social em que vivem, o que em parte é resultado de um estigma continuamente construído em relação à Baixada Fluminense. Questões como ocupação de áreas ribeirinhas, vandalismo e lançamento de lixo nos rios foram repetidamente mencionados, assim como a criação de hábitos consumistas (sob influência dos padrões de vida da zona sul do Rio de Janeiro). Foi feita menção a diferenças entre gerações de moradores e desinteresse por formas organizadas de representação, mas sem
aceitar que essa situação não possa, e não deva, ser revertida.
reuniões similares entre acadêmicos e moradores sejam realizadas, assim como a sugestão da organização de um curso de treinamento em educação ambiental e ecologia política para professores da rede municipal e demais interessados.
(redigido em 01 Nov. 2009)
Comentários ou sugestões para:
Maria Angélica M. Costa (mangelicamc@hotmail.com)
ou Antonio A. R. Ioris (a.ioris@abdn.ac.uk)
Minha observação:
Professor Antonio Ioris leciona na Universidade de Aberdeen (Escócia) no departamento de geografia e meio ambiente, e Professora Maria Angelica Costa na UFrRj e Faculdade São José.