sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Educação ambiental: breve análise crítica


"Por que é importante preservar a natureza?" Esta pergunta simples certamente merece muitas respostas e são poucos os que, hoje, não teriam uma opinião a dar sobre o assunto. Alguns falariam sobre a riqueza da biodiversidade a ser perdida sem que ao menos se conheça seu valor, alguns justificariam pelo cuidado que se deve ter para que as futuras gerações possam desfrutar do prazer do contato com a natureza, outros invocariam até mesmo questões religiosas, afirmando que o homem não tem o direito de destruir o que a natureza - ou Deus - criou. Muitos outros motivos podem ser levantados e não é nossa intenção criar categorias ou hierarquizá-los. O fato indiscutível é que a questão ambiental conta atualmente com uma visibilidade talvez não imaginada há alguns anos. O mesmo pode-se dizer em relação à Educação Ambiental, identificada muitas vezes como conceito, outras como disciplina e quase sempre como "atividade" a ser desenvolvida em diferentes espaços e para diferentes públicos, de acordo com seu objetivo. E quais, afinal, são os objetivos da educação ambiental?

Podemos relacionar os objetivos da educação ambiental à própria importância de conservação da natureza. Assim, ela assumirá uma função – um tanto utilitarista - de transmissão de informações ambientais. Por exemplo, devemos impedir o desmatamento, entre outros motivos, porque:

• Rios e córregos dependem das matas para manter a abundância e qualidade de suas águas;

• As matas são responsáveis pela regulação do clima em níveis local, regional e global;

• As árvores servem como habitat e produzem alimentos responsáveis pela sobrevivência de inúmeras espécies animais.

Ou seja, dentro desta concepção, estamos tratando de um tipo de educação ambiental que pode ser rotulada de conservacionista , pois tem como objetivo principal transmitir informações capazes de capacitar seus sujeitos a interferir de forma menos impactante no ambiente, garantindo a conservação dos recursos naturais. Esse tipo de educação tem uma clara função social ao informar os cidadãos, mas ao mesmo tempo pode se confundir com um tipo de "catequese" que ensina o que é certo e errado sem, no entanto, discutir o contexto e os motivos que levam à degradação ambiental. Podemos dizer, portanto, que a grande limitação deste estilo de educação ambiental é a falta de crítica, que traz como conseqüência uma ineficácia que pode ser visualizada na própria escassez de resultados gerados no controle da degradação ambiental, apesar das inúmeras ações educativo-conservacionistas realizadas por milhares de ONGs mundo afora (e que, por sinal, demandam altas cifras anualmente!).

É por isso que, embora se reconheça a importância desta forma praticamente consagrada de fazer educação ambiental, especialmente pertinente no caso das atividades de turismo e lazer, outras dimensões do "ambiental" foram sendo gradativamente incorporadas ao processo educativo. Ou seja, em vez de enfocar apenas as questões ecológicas, passou-se a trabalhar também as questões sociais, culturais, econômicas e políticas que, direta ou indiretamente, levam à degradação ambiental. E, neste sentido, buscou-se dar mais ênfase aos processos coletivos que levam à degradação em complementação ao modelo antigo, que focava quase que unicamente as ações individuais. Desta forma, o foco da pergunta sobre o desmatamento também viria a se deslocar de "por que devemos impedir o desmatamento?" para "por que algumas pessoas desmatam e outras, não?", e assim as respostas também mudarão, afinal algumas pessoas desmatam, entre outros motivos, porque:

1- são expulsas dos grandes centros urbanos, sendo deslocadas para as periferias precariamente estruturadas onde, querendo ou não, terão de desmatar para construir suas moradias;

2- suas atividades econômicas dependem, diretamente ou não, da extração vegetal, caso das madeireiras, usinas termoelétricas, mineração, agricultura etc.;

3- foi garantida a determinadas pessoas a licença para desmatar, inclusive em áreas protegidas, supostamente em prol do interesse social, como no caso da abertura e asfaltamento de estradas, construção de bases militares etc., e nesse caso devemos lembrar que quase todos moramos em locais onde, há alguns anos, só havia mata nativa, aquela que hoje tanto queremos preservar dos "homens maus".

Isto é, dentro desta concepção de educação, o simples ensinamento do "certo" e do "errado" em se tratando de meio ambiente é visto como absolutamente ineficaz, pois desconsidera fatores sociopolíticos que claramente influenciam os processos de degradação ambiental e não podem ser solucionados apenas com o repasse de informações "ecologicamente corretas". Ao contrário, dentro desta concepção, as soluções para os problemas ambientais que enfrentamos só podem ser encontradas dentro do âmbito das políticas públicas e, portanto, devem ser fruto de mobilizações populares e de lutas pela superação do sistema político vigente, encarado como o responsável pela relação destrutiva que o homem tem com seu ambiente, visto que, ao reduzir a natureza a simples objeto de exploração, passa a se enxergar como diferente, alheio e não-pertencente a ela. Este modelo, portanto, recebe o nome de educação ambiental crítica .

Muitas outras maneiras de se fazer educação ambiental são conhecidas e trabalhadas. Podemos brevemente citar aquela que busca divulgar novas tecnologias menos agressivas ao meio ambiente (aquecimento solar, técnicas de reaproveitamento d'água, tratamento de esgoto por biodigestores, reciclagem de materiais etc.) e aquela que foca no chamado "consumo sustentável", propondo mudanças de comportamentos, hábitos e valores para preservar os recursos do planeta, entre tantas outras. Mas o que podemos concluir é que, se realmente lutamos pela sustentabilidade ambiental, não podemos crer que apenas com o repasse de informações ambientais seremos bem-sucedidos. A informação, apesar de absolutamente necessária, não garante a solução dos problemas ambientais, seja porque uma parcela da população permanece vulnerável a cometer crimes ambientais devido à falta de políticas públicas de moradia e saneamento, seja porque outra parcela, na busca incessante do lucro, se sente isenta para poluir, degradar e estimular estilos de vida incompatíveis com a sustentabilidade do planeta. Portanto, se realmente pretendemos dar uma virada na atual crise socioambiental, é certo que a educação ambiental não pode se limitar ao repasse de informações para indivíduos, mas precisa, sim, ressuscitar as cada vez mais desacreditadas lutas coletivas por uma transformação política.



Geisy Leopoldo Barbosa

Bióloga – Mestre em Ecologia Social pela UFRJ

Assessora técnico-política da Superintendência de Educação Ambiental da Secretaria de Estado do Ambiente (SEAM/SEA)

***A Tese defendida pela autora foi "Ambientalismo em Nova Iguaçu: políticas públicas e movimentos sociais".

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa EICOS de Pós-Graduação em Psicossociologia de Comunidades e Ecologia Social, Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

"Atitudes geram mudanças"

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