sexta-feira, 26 de junho de 2009

Ruralistas das cavernas X ambientalistas do século 21


Tudo tem início com os modelos agrícolas predominantes no Brasil onde a lógica diz que quanto maior a extensão do empreendimento maior será o volume da safra. Sabemos que em países que não possuem territórios cultiváveis as vertentes produtivas são dirigidas para a mecanização aliada ao emprego de tecnologias de solo (correção, adubação, irrigação, etc.), biotecnologia (híbridos vegetais, controle biológico de pragas), dentre outras ações multi-disciplinares. Os resultados dessas aplicações não poderiam ser outros - safras volumosas e alta qualidade agregada, sem causar pressões negativas às áreas nativas e biodiversidade adjacente.

Preocupa-nos sobremaneira a forma com que o setor ruralista trata do assunto, como se o Brasil adormecesse no "berço esplêndido" de 1950/1960, não levando em consideração que a competitividade no mega-mercado internacional das commodities (milho e soja p. ex.) beira a esquizofrenia, com cada país promovendo o máximo de esforço em aumentar a produtividade; que não implica necessariamente na expansão das áreas cultiváveis.

O panorama torna-se mais escalafobético quando caimos no setor pecuário em que enfrentamos concorrentes que investem pesado no melhoramento dos rebanhos (como Austrália, EUA, Canadá, Rússia, só para citar alguns) e nas formulações das rações e no próprio manejo sanitário que é fundamental sob o ponto-de-vista do mercado internacional. Enquanto isto "nossos ruralistas" continuam amando linhagens de ruminantes que adaptam-se ao manejo extensivo como o nelore (de origem indiana) em detrimento da alta produtividade por hectare de outras seleções genéticas como os angus e brangus.

Qdo nosso Ministro Minc diz com propriedade que essa lógica expansionista é uma receita que não dá mais certo refere-se a troca dos modelos vigentes por outros onde a tônica é o emprego em larga escala de tecnologias que já temos (leia-se EMBRAPA/EMATER) e aliado a isto um trabalho consciente de recuperação/preservação dos grandes biomas brasileiros. Biomas estes que são responsáveis pela água que "nossos ruralistas" usam em abundância em seus empreendimentos agropecuários. Veja o quanto pode ser pernicioso manter a receita de bolo que eles tanto defendem: em troca de novas áreas devasta-se a cobertura vegetal que é o que mantém em disponibilidade os estoques de água que serão usados nos sistemas de irrigação (por aspersão em sua maioria, coisa ultrapassada). Resultado: grandes monoculturas e milhares de hectares de pasto e não haverá água suficiente para tanto. Visão catastrófica? De maneira alguma - veja o exemplo da extinta URSS: usaram tanta água do Mar Cáspio nas monoculturas de trigo que atualmente caminha-se por até 3 quilômetros da margem original até alcançar a lâmina de água.

A solução existe e não será pelo enfrentamento puro e simples que os ruralistas terão garantidas suas polpudas receitas. Que abram-se as portas da construção bilateral dentro de um conceito participativo!!!

Perguntamos: vale a pena tanto sacrifício em troca de tão pouco? Pq o bônus é de tão poucos enquanto o ônus é para todos? Preservação ambiental não é argumento para frear crescimento econômico, mas a integridade de nosso panorama ambiental será a garantia de estoques alimentares para todos, além da inserção e o comprometimento de nossa economia com as grandes metas da humanidade para o próximo milênio.

"Atitudes geram mudanças"

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